Hoje escrevo esse poema...


porque arranhei as paredes de minha miséria...
quebrei todos os cristais & porcelanas da coleção de minha mãe...
furtei todos os vinhos caros da adega de meu pai

porque ruí diante de espectadores como uma partícula de nada
& nunca mais quis ver ninguém
abandonei meus amigos que me tiranizavam com sua doçura
& martelavam em mim fantasmas que eu havia matado

porque nenhuma melodia consegue me acordar
do pesadelo de casarões antigos ruídos
alcova de pesadelos...
espelhos quebrados ruídos por densas vegetações negras...

porque minha luxúria é um turbilhão incontrolável
que nenhuma boceta pode apagar
para que não esqueçam que meu grito será um corpo inflamado
percorrendo as ruas numa vertigem voraz...
& meu sofrimento escorre como um rio inominável...

porque hoje acordei me sentindo um merda
& eu achava que havia encontrado a plena imperturbabilidade
vejo como estou sempre me enganando quanto a minha sensibilidade

para que os amigos coloquem de uma vez por todas
os seus punhais para fora & não o façam como covardes
débeis & tolos mascarados de fracotes...

- CONHEÇO OS TIRANOS QUE HABITAM EM TUAS ENTRANHAS!! -

Para que me deixem em paz
com minha solidão & minha vontade irrefreável de mudar a vida
Mudar de Vida...

Chegar aonde nunca se chegou
matar as moscas dos antigos problemas & antigas condições...

Que o castelo se exploda!!

Escrevo esse poema como quem salta de um prédio de 20 andares
& abre as asas para uma dor inigualável
deixa-se penetrar pelas mais horríveis sensações

Escrevo esse poema como quem ama uma prostituta
que te enganou durante anos & meses de pura sinceridade
Como quem foi o tempo todo ludibriado
& se revoltou contra o céu prometido dos affaires humanos..

Rasgo esse poema como rasgo o meu rosto
marcado de cicatrizes & brasões
bandeiras queimadas
fuligem...
Como quem rasga um grito & cai desacordado
numa nuvem de delírios

Como quem carrega depravações & olhares sinistros
palavras fortes nos lábios
uma língua de vulcão
explodindo...

Eu que fiz pactos & rompi tratados
eu que levei todos os outros nas minhas vísceras
para qualquer buraco que a estrada me levou
& escrevi ODES soberbas... pedindo que vivessem...
que fosse além do escrito & dito...

Eu que dancei de olhos vendados numa avenida cheia de vorazes carros...
eu que expeli cachoeiras de meu pênis
numa rua suja...
Eu que DESAFIEI o mundo...

Olhei-o hoje
& decepcionado...
escrevi esse poema...


IkaRo MaxX

24 de Agosto de 2007

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(Postagem autorizada)

Ana Átman
Enviado por Ana Átman em 10/11/2009
Código do texto: T1915655
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