O poeta está vivo

Acabei de ler a biografia de Cazuza, (contada a partir de depoimentos da memória de sua mãe Lucinha Araújo). Pra mim, que já era fã dele, tanto de suas músicas quanto de sua "ideologia" de vida e jeito de ser, já estava empolgado só de pegar o livro em minhas mãos. Pois bem... virei ainda mais fã deste cara! Impossível não se divertir com seu jeito e também com as histórias vividas por ele. Nem preciso falar da qualidade de seus versos transformados em músicas. Simplesmente um dos melhores letristas da música brasileira, não só do rock.

O livro é muito detalhado e conta sua trajetória desde os tempos de menino até seus últimos dias de vida. Pelo livro, Cazuza (que se chama Agenor) sempre teve uma vida privilegiada. Tinha pais que o ajudavam sempre que precisava (financeira e pessoalmente) e vivia em um certo luxo. Mas, nunca foi uma pessoa que se importava com isso. Gostava de viver os dois lados da moeda. Gostava de viver no limite. Diversão era sua palavra de ordem.

Sem contar sua coragem de revelar publicamente sua doença. Porém ele se mostra receoso no começo, porque não queria que seu público sentisse pena dele, mas sua atitude só lhe trouxe mais admiradores.

Olhar Cazuza antes e durante a AIDS é terrível, visualmente falando.

Lembro exatamente como virei fã de Cazuza. A primeira vez que ouvi falar dele e de suas músicas foi quando estava na oitava série, com 13 anos. Um professor de português escrevia em todas as suas aulas, pequenos versos no canto da lousa. Um dia escreveu de Cazuza, não lembro qual era. Dois amigos se interessaram muito e começaram a ouvir Cazuza. Eu comecei pelo Barão. Sabia que Cazuza tinha feito parte da banda e que as letras eram suas. Mas de início, não gostava de sua voz. Preferia a do Frejat! Aos poucos fui conhecendo parte de suas histórias e maluquices e fui gostando disso. Conheci seu trabalho depois do Barão e hoje não consigo opinar sobre quem é melhor. E nem quero.

A consciência que Cazuza tinha dos fatos que aconteciam ao seu redor e saber colocar iso no papel era impressionante. Não dá pra dizer qual é a melhor letra. Posso até dizer minha favorita, mas é um gosto meu. Comparar letra por letra é impossível.

Versos e frases que eu lembro a qualquer situação vivida:

"Eu to perdido, sem pai nem mãe, bem na porta da tua casa." Maior Abandonado

"Dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão." O tempo não pará

"O mundo inteiro acordar e a gente dormir...pro dia nascer feliz, esta é a vida que eu quis." Pro dia nascer feliz

"Exagerado, jogado ao seus pés, eu sou mesmo exagerado, adoro um amor inventado." Exagerado

"Eu vi a cara da morte e ela estava viva." Boas Novas

"E aquele garoto, queria mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro." Ideologia

"Brasil, mostra a tua cara." Brasil

"Nossas armas estão nas ruas é um milagre, elas não matam ninguém." Milagres

"Todo mundo tem um ponto fraco, você é o meu porque não." Ponto fraco

"Você apenas 1 segundo pra aprender a me amar." Por que a gente é assim

"Transformar o tédio em melodia." Todo Amor que Houver Nessa Vida

"Como pode ser alguém, tão demente, porra louc, inconsequente e ainda amar." Bilhetinho Azul

Entre outras tantos que não consigo lembrar agora, mas que com certeza ainda tocarão muito. Nem é a toa que ele é um dos artitas mais regravados do Brasil.

Bom,termino usando uma frase de Cazuza no Rock in Rio de 1984:

"Que o dia nasça lindo pra todo mundo amanhã, com um Brasil novo, com a rapaziada esperta!"

William Nunes
Enviado por William Nunes em 05/11/2009
Reeditado em 07/07/2010
Código do texto: T1906916
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