HOMENAGEM À VIDA

Homenagem à vida

Thornton Wilder, em sua peça de teatro mais conhecida, Nossa Cidade, enfatiza a grandeza da vida cotidiana: jornaleiro a distribuir notícias; vizinhos preocupados com a comunidade e em prestar-lhe sua ajuda com palavras de ânimo e congratulações; trabalho; vida escolar. Enfim, na pequena localidade de Grovers’ Corners o que tem valor é o bem e o solidarismo.

Há um sábio, astrônomo, que coloca em perspectiva nossa significação frente à grandeza e a idade do universo. Somos grãos, bem menores do que o menor dos grãozinhos de areia.

No local mais privilegiado , pela posição no alto de uma colina de verde de relva e árvores frondosas, está o cemitério. E lá estão lápides com nomes dos habitantes da cidadezinha, atualmente. E os que lá estão, a cada chegada de novo vizinho, buscam saber dele notícias de como andam seus familiares e amigos. Querem saber se os que ficaram lá embaixo, por entre casas e ruas de Grovers’ Corners, estão felizes.

Um dia de chuva, há na cidade um funeral e muito choro. Emily é enterrada, em plena felicidade de acabar de trazer a esse mundo seu segundo filho, de seu casamento com o primeiro e único homem que amara--e ainda amava. Sentira-se extremamente realizada e contente com sua vida, sua casinha,a adoração de seu marido. E lá de cima, senta-se, agora, entre parentes e amigos que a acolhem e, ao mesmo tempo, crivam-na de perguntas. Olha para baixo e vê, em meio a um campo de guarda-chuvas, seu marido—viúvo—debruçado sobre sua lápide, lavando-a de lágrimas. Fica triste, pois quer que continue a vida feliz que tiveram juntos.

Pede ao Gerente de Cena—personagem da peça e , quem sabe, uma representação da figura divina, que a deixe voltar, ao menos por um dia. O homem concede-lhe esse dia, mas deve ser um em que se considerara totalmente feliz. Pensa bastante, pois é árduo selecionar um dia apenas dentre tantos maravilhosos. Finalmente, Emily escolhe o dia de seu décimo-segundo aniversário. Volta à casa e vê sua mãe, moça, e seu pai, entusiasmado com seu trabalho. E, principalmente, seu irmão que a Guerra havia levado, e o ramalhete de flores que seu futuro marido havia lhe dado.

Mas deve retornar à colina. Despede-se:”Adeus vestidos e fitas recém engomados! Adeus cheiro de café da manhã! Adeus flores e girassóis de mamãe!” Envia adeus comovido às pequenas coisas que mais amou em Grovers’Corners. Volta-se ao Gerente de Cena e lhe pergunta: “Será que os estão vivos dão-se conta da beleza que é a vida?” Ao que o personagem-Deus responde: “ Alguns! Os santos e os poetas!”

Este texto, que aqui foi produzido a partir de lembranças de leituras, é um de meus favoritos pela mensagem que coloca em nosso coração e pelo convite à reflexão sobre o que estamos fazendo com nossa vida.

Que nossas vidas possam glorificar a beleza de crianças, amigos, amados/as, flores, trabalho, passatempos, nuvens, calor e frio, chuva e sol.

Que possamos ter, dentro de nós, os que estão naquela colina de relva e árvores.

Que cada dia possa ser vivido como o daquele aniversário que Emily recebeu a sorte de poder reviver.

Que amemos e plantemos para que, entre outras coisas, possamos permanecer, com alegria e um pouco de saudade, pelo menos em alguns momentos, na memória e coração dos que ficaram.

Um abraço.

Ilram

Ilram Rekrem
Enviado por Ilram Rekrem em 02/11/2009
Reeditado em 02/11/2009
Código do texto: T1900638
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