Feliz Aniversário!

26 de outubro, 2009.

Aniversário de minha bisavó—Oma—que , junto com meus avós e Titia, me criaram. Ficou conosco até uma noite, quando, após um longo jogo de paciência e a primeira parte do capítulo de O direito de nascer, forte angina levou-a. Entretanto, continua bem vivinha dentro de nós.

O dia de seu aniversário enchia a casa de perfumes das flores que lhe enviavam e das ervilhas-de-cheiro do jardim. As venezianas ficavam fechadas até perto da hora de suas amigas chegarem: evitavam-se moscas e o ambiente mantinha-se agradável.

A mesa ficava pronta logo após o almoço. Vovó colocava toalha de linho e guardanapos, os melhores talheres em seus apoiadores de prata, louça antiga trazida da Alemanha, as tortas favoritas—a Imperatriz, de nozes com camada de pudim de laranja, ovos moles e ameixas e a Frankfurter Krantz, pulverizada de amêndoas e recheada com um creme especial, com muita manteiga e amêndoas—, croquetes de carne (de verdade e feitos em casa), bolo marmorizado, laranjas com espetinhos de picles e, ao centro da mesa, um jarro de cristal com flores do campo e orquídeas, em harmonia.

Os pastéis chegariam meia hora antes dos convidados. Na verdade, daqueles que haviam lembrado da data e chegavam para abraçá-la, trocar alegrias, beliscar, como diziam, alguma coisinha e, especialmente, para conversar, ao redor daquela mesa posta com amor entre flores, doces e salgadinhos.

Hoje, conforme o sol, a brisa e mistura de aromas de flores do jardim, de cravo, canela, nozes e nós moscada, estou naquela sala de jantar e ouço as risadas, cantos e conversas. Oma, na noite em que não conseguiu ouvir o final da novela, garanto que não imaginaria a menina de nove anos, com a qual repartia sua cama de casal e as histórias de Max und Moritz , a reviver , tantas décadas depois, alegrias de sua lembrança. Feliz Aniversário, Oma!

Que pena que, naqueles tempos, a gente não soubesse como o tempo passa depressa… No entanto, aprendi, com o passeio das vozes queridas, que elas permanecem, não importa quão longo seu passeio.

Um beijo, Oma, de sua

Mädchen

Ilram Rekrem