Um Presente Especial

Ela é muito pobre. Mora numa casinha baixinha e pequenina como a dona. As janelas e portas são estreitas e pequenas, parecendo dizer: “Aqui mora um ser pequenino”.

É assim que ela é. Pequena, mas de bom coração. Teimosa, embora perto de completar cem anos, todo o dia está dentro do roçado, e só larga a enxada quando o sol está se pondo. Curvada pelo tempo ou pelo esforço de tirar ervas com as mãos. Tem orgulho de seu roçado, e diz que só vai parar quando a morte lhe mandar chamar.

Esquecida da fome e da sede, ela vai, ressecada como a terra que aguarda a água que não vem. Assim é dona Judite. Teimosa, trabalhadeira.

Um dia fui visitá-la, e depois de muita conversa fomos a outra casa para matar a saudade de um casal amigo. Depois de umas duas horas de conversa, saímos dali, e surpresa encontramos dona Judite naquela estrada deserta, escondida entre os galhos dos matos que ficavam à beira da estrada. Ela me fazia sinal. Desci do carro, fui até ela e lhe ofereci carona, ela recusou, mas me estendeu um pacote que quando peguei percebi que havia algo molhado. Que é isso, dona Judite?Perguntei sem tirar os olhos daquele sorriso desdentado.

- Um presente pra sinhora - respondeu-me prontamente.

Olhei para o embrulho, senti aquele cheiro gostoso, e ao abri o pacote, vi belas pinhas que pareciam me convidar para uma festa.

- Dona Judite! Que belo presente!

Ela me respondeu toda orgulhosa: - Acabei de ganhar, mas por causa da glicose não posso provar. Lembrei que a ‘sinhora’ gosta e fiquei aqui esperando vocês ‘passar’- apontando para as frutas me pediu que provasse.

Comovida provei da fruta e me vi derramando lágrimas. Tentei disfarçar, porém não consegui ter sucesso. Dona Judite ficou preocupada pensando que eu tinha ficado chateada com alguma coisa que ela fizera. Tive que explicar que aquele presente que ela estava me dando estava sendo o maior presente da minha vida, porque ele veio revestido de amor, do amor que ela demonstrava por mim.

Aquelas foram as melhores pinhas que provei, e apesar de ser minha fruta predileta, e já ter me deliciado com caixas e mais caixas dessa fruta, nunca haverá outra que chegue aos pés daquelas. Aquelas pinhas foram as mais saborosas, as maiores, as mais belas porque nelas estava o sabor do amor.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 22/10/2009
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