Seu Régis, um amigo
‘Uma casa se começa de baixo para cima, nunca de cima para baixo’... ‘Esse menino teve berço, tomou palmada quando criança por isso é que gente boa e tem pedigree’, com essas frases e outras melhores ainda é que o Seu Régis, o meu amigo Régis, saudava a minha pessoa. Culto e de boa prosa, falava com propriedade de história geral, história do Brasil, literatura, filosofia, política etc. Gabava-se de ter prendido o monstro alemão nazista Joseph Mengueli na divisa do Brasil com o Paraguai, quando atuava na polícia por aquelas bandas. Sonhava em construir em suas terras, na antiga estrada de Colorado, lá na famosa ponte de pedra, um hotel fazenda que pudesse utilizar todo potencial das cachoeiras e mata que ali até hoje tem. Vivia com o envelope que continha os documentos do lote debaixo do braço, tentando viabilizar um financiamento junto ao banco BASA. Seu Régis era pontual, todos os dias, quando com saúde, saia sob o sol, a pé, e vinha visitar aos amigos, eu era um deles. Tinha o prazer de ouvi-lo, quantas vezes veio e me deu a honra e o prazer de aprender com ele. Um dia eu querendo saber o que ele entedia sobre Jesus Cristo, perguntei de pronto: - seu Régis, quem foi Jesus Cristo? E ele também de pronto respondeu: - É o meu salvador, é Deus, veio aqui e morreu por mim e por você. Jesus curava pra todo mundo ver e até hoje cura, com Ele (Jesus) não tem não. De outra vez, perguntei em inglês sobre algo, meio que brincando para ver o que ele diria. E também, lúcido, respondeu em inglês e depois, para devolver a provocação, respondeu também em alemão. Seu Régis era assim. Não parecia o que realmente era: uma enciclopédia ambulante, um gentleman, educado, respeitoso, sempre muito bem asseado, com seu belo bigode peculiar e bem aparado, de bem com a vida, sempre com uma palavra bonita para nos dizer e nos motivar. Um dia o câncer o acometeu e aos poucos foi tirando dele o vigor, mas não a luz. Como a um carvalho foi se indo, em pé, ele sabia, pois foi lúcido, altivo, foi indo, indo, em pé. Até que um dia se foi mesmo. Esse mês completa-se três anos. Ele, o amigo Régis, faz muita falta. Que Deus seja com ele.