DE PAI PARA FILHO
Foram cinco os anos de espera.
Dias e noites intermináveis, mergulhados
em dúvidas, incertezas e angústias.
Faltava algo em nossas vidas. Um pedaço
pequeno de nós que vagava, não se sabe ao certo
onde nem quanto. Um pedaço de nós parecia
perdido, distante, e o que é pior, com a nítida
impressão de impossível para nós. Só a fé que
nos fazia amar mais do que a nós mesmos a este
pedaço de nós distante, foi capaz de suportar conosco esta ausência doída, feroz e implacável.
Mas há exatos dois anos e nove meses acabou-se
a angústia e a dor. Havia caído um pedaço de anjo
do céu. O pedacinho de nós que faltava, já não era
mais distante e nem ausente.
E era exatamente como nós havíamos pedido a todos os deuses naqueles momentos de oração e fé que nos conduziram por todo o tempo de espera.
E veio linda, e veio brilhante e veio única, como
se no universo inteiro não houvesse um só ser
como ela. Era o fim da espera e o início da nossa
continuidade.
E agora, passado o sonho, a realidade não deixa mais dúvidas: se subtrairmos de nós o sorriso de Nathália, se subtrairmos de nós a luz e o brilho de Nathália, e se subtrairmos de nós, enfim, a alma de Nathália, o resultado em nós haverá de ser zero.
Dezembro de 1995