SR BENINO, O CARTEIRO

Hoje, como na maioria dos dias de minha rotina, abri o correio eletrônico para verificar e ler os recados. Há dois dias que eles minguaram e eu senti muita falta. Até os anúncios resolveram desaparecer. Pena... Estava buscando um aconchego, alguma mensagem mesmo que repetida, mas que buscasse fundo algo dentro de mim.

De repente, essa ausência buscou fundo por mim e eu me lembrei de um tempo remoto em minha mocidade. Depois do almoço, hora aprazada de passar o carteiro, minhas irmãs e eu que ansiávamos por uma correspondência, assentávamos praça. Fixavámos residência na porta da rua. Repetidas vezes, olhávamos na direção da esquina para ver se o carteiro estava chegando. Uma resposta de uma carta muito aguardada ou de um alguém recém-conhecido. Desejávamos ardentemente receber daquela mão, aquele mimo, muitas vezes de amor, ou até de uma amizade que migrou pra longe.

Uma imagem povoa minhas retinas até hoje e, principalmente, neste momento. A figura do Sr. Benino, o carteiro. Vestido de um uniforme cáqui. Era alto, esguio, andar decidido, gestos elegantes, parecia marchar, movimentando a mão livre na frente do corpo, Sempre apontava lá no alto da esquina com uma carinha boa, amiga. Parecia conhecer nossa expectativa, por não dizer, a nossa esperança!

Quando se aproximava mais e a gente perguntava: “Sr. Benino, tem carta pra mim?” Ele, com o mesmo sorriso do início respondia, quando não tinha nenhuma: “Ta viajando!” Interessante como essa frase minorava ou diminuía a decepção. Na minha cabeça, a carta estava a caminho, mesmo e, talvez no dia seguinte, quando ele voltasse, estaria com ela na mão em riste, pra me entregar. Se isso acontecesse, como de fato muitas vezes aconteceu, eu notava a alegria dele em entregar a missiva. Era uma simbiose, uma interação espiritual sem precedentes. Parecia gostar do que fazia e, por isso, dava a impressão de estar sempre de bem com a vida.

Bendita falta da correspondência no meu e-mail hoje. Bendita saudade que nos faz viver em dose dupla, o sentir dobrado. Apesar de o querido e saudoso Senhor Benino não estar aqui, nem mesmo entre nós, para dizer que a minha “carta” está viajando, sinto que ela está a caminho, porque a rotina traz e reserva sempre belas coisas para nossa vida.

É com alegria que, pela primeira vez, escrevo essa mensagem-carta para o Sr. Benino, oferecendo-lhe o que tenho neste momento, a minha saudade e o meu agradecimento por ele ter feito parte de nossas vidas, por longos anos.

Com amor,

Dora Tavares