UM NORDESTINO CORTADOR DE CANA
Bem cedo se levanta,
o nordestino cortador de cana.
Toma puro o seu café,
feito da garapa
da melhor cana caiana,
por sua bondosa mulher.
Veste a velha calça,
desbotada e tão surrada!
De nódoas, amontoadas
que mal se vê a cor!
Põe o velho chapéu
de palha desfiada.
Calça as botas de lona,
que ganhou
na colheita passada...
Afia a enxada,
o facão e a foice
pra render mais, o “trabaio”.
Atrela o burro à carroça.
põe o café e a comida
no pequeno balaio.
Vai pela estrada
vencendo o medo,
ainda na madrugada
sempre de “orelha em pé”.
Quando alguém por ele passa
ainda tão cedo
dá um cordial bom-dia,
cheio de alegria e fé!
Ao som da sinfonia
da alegre passarada,
vai tocando o seu burro
nos caminhos, na estrada.
Vai tentando imitar
os cantos indecifráveis
das aves nos gorjeios
em leves murmurar.
Antes da luta começar,
chega na primeira eira
do grande canavial.
Olha para o céu agradecido
por Nosso Senhor ajudar.
Por mais aquele dia,
com sua ajuda ganhar.
Pernas e costas ainda doem
do facão empunhar.
Corre rápido a enxada
ao redor das touceiras...
Arranca com a foice
o mato, e as folhas secas,
rodopiando-as no ar!
Salta veloz do formigueiro,
espanta as abelhas Jataí.
Mata a cobra peçoienta
que fez o seu ninho ali...
No toque da ferramenta,
o calango assustado
foge pro meio do mato
com medo do homem
e da sua foice marrenta...
Esse é o dia-a-dia
do menino triste
de sonho perdido, que outrora
queria morar no Piauí.
É o trabalhador destemido
de agora
da extenuante colheita!
Que ora agradecido
pelo bem que a vida lhe dá.
enquanto corta a cana
lamenta a opção desfeita...
De volta pra casa
o Nordestino Cortador de cana,
trilha cansado,
o mesmo caminho.
Vence o medo, guarda o sonho
de um pintor se tornar,
Enquanto tece outro
para seu filho querido
melhor destino trilhar.
Iraí Verdan
Magé, RJ., 10/08/2008.
(Homenagem ao Dia do Nordestino - 08 de outubro)