Paulinho Pedra Azul - Destino e Escolha : Ser Ave Cantadeira

Eu me lembro muito bem a primeira vez que vi um rapazinho franzino se apresentando no palco do Cine Teatro Isabel, aqui em Pedra Azul. Era uma tarde de domingo, eu ainda não era aluna da Cassiano Mendes, mas fui com Eva, minha irmã assistir às apresentações do Grêmio Cultural Machado de Assis, cujos shows eram organizados pelos alunos da Cassiano Mendes.

Naquela época eu tinha 10 anos, era 1974 ou 75. Não entendia muito bem tudo o que se passava, mas entendi pela música que ele cantava, que ele estava indo embora, a música era Travessia, de Milton Nascimento. A interpretação daquele jovem cantor ficou na minha memória. Nunca me esqueci daquela forma íntima e pessoal de interpretar uma música que parecia ser um rito de passagem para ele próprio. E realmente o era, pois depois ele partiu para Belo Horizonte, para tentar fazer carreira como cantor. O jovem cantor era Paulinho Pedra Azul.

Depois, já com 15 anos, na cidade de Itaobim, tive a oportunidade de assistir à sua apresentação já como vencedor do Festivale, em 1980, com a música Ave Cantadeira.
De lá para cá , vi seu nome se estabelecer no cenário da música de Minas. Não foi trabalho imediato... mas o sonho de uma vida na contramão da cultura dominante.
O que mais gosto em Paulinho é o fato dele não ter se vendido à mídia, não ter abdicado de seus valores e principalmente ter carregado Pedra Azul como símbolo maior de amor e identidade para sua própria vida.
Amante fiel a seus princípios de amor à terra natal e a sua gente, vem demonstrando em todos esses anos sua fidelidade e carinho, jamais a traiu, casamento perfeito, que resistiu às tentações de uma amante chamada fama, às tempestades do tempo, à agressividade do capitalismo, ao império da virtualidade e à massificação da cultura. Preferiu abrigar seu sonho numa casinha num Recanto Azul, no vale do Jequitinhonha, a ostentar um personagem num palácio de vidro. Nunca negociou sua Pedra Azul por outras jóias.

Em tempos de axé e batida eletrônica, não se envergonhou de repetidamente declarar seu amor pela raiz regional de sua música.
O seu lirismo é solto e flui naturalmente, sem nenhuma pretensão, se existe uma ambição é o de ser ave, ave que canta, como escolha e destino.
Mas ave que aprimorou seu canto, hoje MPB de qualidade, com chorinho, jazz e muito, muito encanto .

Paulinho continuará a voar... voar, tendo como pouso certo o coração de muitos de nós que guardamos um jardim da fantasia, cujas raízes são regadas com ternura, choro, sonho e esperança. Solo onde abrigamos tesouros escondidos, e com certeza onde um dia encontramos nossa " Pedra Azul."



Obed R. de Souza
Professora de Inglês