Retrato da Minha Mãe
 
Anália. Este é o nome da minha mãe: olhar fundo, corpo pequeno e franzino, cabelos ralos e bem negros, o riso ora triste, ora alegre, e a voz soa doce e também zanga, mas com sabedoria.

Seus pés miúdos andam ágeis tal qual a corsa: passos de mulher virtuosa. É humana, por isso, algumas vezes seus pés miúdos não sabem esconder as preocupações. Quando elas surgem, deixam-na intranqüila, os passos tornam-se inquietos e nos entristecemos com o seu rosto sôfrego.

Entretanto, como mulher sábia ela busca a Deus em oração.
É assim, derramando diante do Altíssimo que ela torna-se calma: diante da Graça de Deus que é infinita.

Que cena linda quando as suas tecem com agilidade, aqui, acolá, um bordado minucioso ou um delicado crochet.


Do seu íntimo, espelham-se grandes qualidades, dentre elas o calor materno que nos transmite coragem, além das palavras humildes que chegam devagarinho e se manifestam como sábio apoio.

É vasto o seu carinho por nós, incontáveis são os seus esforços para limitar nossos lábios a comportar dignamente: saber falar e calar-se quando necessário.

Mãe especial!

Mãe singular!

Grande mãe, mesmo sendo pequena.


Infinitamente mãe!

Mamãe, era assim que eu a chamava
e me refiro a ela até hoje: mamãe.

Oficina nobre de onde brotou nossa vida.


Instrumento que transmitiu proezas, raspando incapacidades, lavrando talentos, para polir, assim, nossa personalidade - para sermos flechas nas mãos do Guerreiro.

Assim foi minha mãe: alegre, ágil, batalhadora, serva de Deus.

Sofria de algumas enfermidades e foi vítima de doenças que somadas negavam-lhe a possibilidade de continuar nos guiando.


Sua voz, seu riso e seus passos emudeceram-se, no entanto, a sua falta não impede que eu a descreva: com muita saudade e amor único, pois ela foi a mãe que Deus me deu.

Faz tempo que eu não a vejo, mas lembro perfeitamente o retrato da minha mãe e lembro-me da sua voz nos abençoando com a Palavra de Deus que se encontra em Filipenses 4:8
Quanto ao mais, meus filhos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.

 
Extraído do livro "...Mas a alegria vem pela manhã", de autoria de Onã Silva
 

 
Onã Silva A Poetisa do Cuidar
Enviado por Onã Silva A Poetisa do Cuidar em 29/09/2009
Reeditado em 22/05/2012
Código do texto: T1839137
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