Madeira Mamoré

Paralelas de ferro, esperança de uma nação.

Foste o caminho, em odisséia traçado,

No fim do mundo, no passado,

Rasgado na floresta, a machado e a facão.

A natureza tentou impedir o progresso,

Mas a insistência levou ao sucesso.

Os teus dormentes, em mentira exagerada,

Representavam as vidas, pela tua obra levada.

Foste criada para salvar vidas,

Que se perdiam entre as pedras das cachoeiras,

No Madeira e suas corredeiras,

Em seu leito, em grande corrida.

Tuas locomotivas, “Marias-Fumaça”,

Rasgavam a floresta em esforço resfolegante,

Mas mantendo a imponência, cheia de graça,

Arrastatando vagões, toda elegante.

O apito dos trens, que rompiam o silêncio no passado,

Deixaram marcado, dentro de mim, uma verdade:

O som estridente do silvo tão chorado

Marcou em meu peito, uma grande saudade.

Ligavas Porto Velho a Guajará Mirim;

Na minha infância, as maiores cidades do Guaporé.

Teus trilhos uniam, também, enfim,

Os rios que te deram o nome, Madeira e Mamoré.

O tempo foi cruel contigo.

A depreciação te transformou em sucata.

"Patriotas" chegaram como inimigos;

Depredaram o que para nós era relíquia, e venderam como lata.

A falta de visão e de compromisso com a tradição,

Evitou de te transformar em uma moderna ferrovia;

Que seria mais econômica à manutenção.

Preferiram colocar em teu lugar uma estreita e esburacada rodovia.

Madeira Mamoré, apesar de tentarem apagar tuas lembranças.

Numa fogueira de tanta ignorância.

Tua memória não foi maculada;

Pois no coração de cada rondoniense, tu estás preservada.