MEU VÔ MEU TUDO
MEU PRETO VELHO
Meu vô Salú, figura linda meu preto velho.
Quase dois metros de altura, forte, cabelos brancos.
Aquela boca mais linda do mundo quando sorria banguela.
Você ensinou-me o verdadeiro significado da felicidade.
Ser simples e nunca querer mais do que precisasse para viver.
Adorava quando você me acordava cedinho ás cinco, para buscar lenha na mata.
Você ralhava comigo que ao invés de carregar só um facho.
Cortava a arvore inteira e trazia ela no braço.
De menina macho me apelidou e assim até hoje ficou.
Sempre falava que cada arvore arrancada
Duas teriam que ser plantadas
Senão quando meus filhos precisassem, para cozinhar o alimento
Que triste seria se eles
Só encontrassem o desmatamento
Com seu cachimbo na boca, quando em casa chegava, corria acender o fogo.
E mandioca cozinhava.
A vô preparava o café no seu coador de pano.
Eu ficava ali parada sentindo esse encanto.
Adorava sentar a sua frente, para reparar você mastigando.
Que boca linda banguela, sorrindo e se alimentando.
Você sorria e falava,
Coma minha fia coma tudo
Depois vamu na horta pra módi plantá.
Coiê cove pra armuçá
Alimentá as galinha
E prepará mungunzá.
Hoje meu preto velho querido.
Não faço mais fogo de lenha não
Hoje meus filhos comem
O que cozinho no fogão
É modernidade para todo lado
É coisa que temos e nunca vamos usar
É desperdiço de tudo
Você seria tão triste
Se vivesse aqui e agora
Em ver tanta gente infeliz sem ter idéia do que foi outrora
Meu vô muito obrigada, por tudo que me ensinou
Sinto ainda seu cheiro. Seu cheiro daquele suor
Que tanta alegria me deu. O cheiro de um trabalhador.
Foi escravo espancado. Mas me dedicou tanto amor
Te amo vovô Salú
Preto velho, escravo meu vô.