Mémorias de lembranças 1 ( Ao meu pai )

Do começo até o namoro.

Sempre fui uma pessoa simples, e por ser assim sempre fui feliz. Havia silêncio em mim, durante muitas emoções essa era a minha principal expressão.

Criança criada com amor e muito respeito, que sempre soube o valor da educação, tive 11 irmãos, um partiu cedo, outra foi embora quando ainda era um jovem sonhador, deixou três filhas que foram criadas todas pelo meu pai e por minha mãe. As percas sempre aconteceram em minha vida, e quando a gente perde mais do que tem aprende a se contentar com o pouco que conquista, sendo assim, aprendi muito com o suor de um dia trabalhado e com os frutos de uma boa plantação.

Nosso pai sempre nos deu bons exemplos, íamos a cidade todo domingo, íamos a missa, e depois voltávamos embora, sempre com muita traquinagens, a vida no sítio é assim, sobra tempo quando criança, e sempre fui um filho calmo, muito achegado com minhas irmãs, sempre defendendo-as, sempre dando um jeitinho para tudo dar certo, afinal, sempre gostei de ver tudo dar certo. Estudávamos numa escola no bairro de Jacutinga em Bofete, no pé da Serra de Bofete, linda paisagem para quem vem pela Castelo Branco sentido interior, perto do bairro da mina, meus tios moravam perto, e nossa família era grande como várias famílias da região, afinal, vivíamos do nosso próprio trabalho e no sítio naquela época, ter muitos filhos era uma necessidade e uma diversão ( a única, não tinha televisão, rsrsrsrs) mas tinha rádio, e foi num desses que vi a seleção brasileira, ganhar seu primeiro título mundial no ano de 1958, quando eu tinha apenas 8 anos, me lembro muito bem disso.

Eu fui o nono filho que nasceu nessa familia, no ano de 1950, dia 28 de agosto, estudei até completar o ensino fundamental, que era muito para época, muitos nem estudavam, mas nosso pai exigia que pelo menos aprendessemos a ler e escrever, o resto a vida nos ensinaria, homem bom, de bom coração, muito trabalhador, calado e sério, eram raras suas risadas assim como a da minha mãe, as pessoas antigamente, principalmente as que nasciam do sítio eram assim mesmo, o silêncio fala muitas palavras, e foi dessa forma que aprendi a dar valor ao silêncio, silêncio esse que muito me incomoda até hoje, mas fazer oque sou assim, nasci assim e assim serei até não mais ser. Mas para equilibrar esse silêncio aprendi muito a sorrir e a fazer as pessoas sorrirem, não com piadas, mais com trocadilhos, com invenções, com histórias, com brincadeiras, gosto de ser natural, e piada é uma coisa artificial, não vem da gente, é algo que um um cara chato pode contar e alegrar o ambiente, já a felicidade por natureza é contagiante e dessa forma muitos amigos eu fiz.

Trabalhei muito na roça, muito mesmo, sei plantar de tudo oque se possa imaginar, sei das épocas que nascem as verduras e os legumes, e sei o tempo certo para colher e plantar, sempre amei minha vida, e sempre gostei de pegar no pesado, sempre achei que o trabalho nos faz bem, afinal com ele ganhamos e sabe de uma coisa, sempre ganhei o suficiente para fazer oque queria, então nunca almejava mais que aquilo, afinal o desejo é uma entrada para as decepções, e como falei agorinha mesmo, sempre fui um cara feliz silencioso, feliz e simples, ou seja, na minha simplicidade sempre fui muito feliz. Pod e perguntar aos meus filhos se els ouviram as seguintes frases:

- Um dia ainda terei uma carro desse!!!

- Um dia ainda terei uma casa dessa!!!

- Um dia ainda iremos para ese lugar!!!!

Nuncame prendi ao impossivel, sermpre me liguei ao perecìvel.

Foi sendo assim, e com uma grande bagagem que fui conhecer um pouco o mundo, entrei numa empreiteira e lá estava escondido meu destino, viajei um pouco, mas sempre trabalhando, conheci várias regiões de São Paulo, muitas cidades do interior e também a capital, e depois de algum tempo e depois de muitas namoradas, conheci uma que deu um chega pra lá e me disse: -" ou eu, ou as trêis que você namora!!!" Por incrível que pareça, larguei das três, já tinha aprontado tudo oque podia aprontar, e essa pessoa eu sabia quem era, da onde vinha e até onde ía comigo, e para acabar essa primeira parte da minha vida posso afirmar uma coisa com muita firmeza. " hoje tenho plena certeza que não me arreprendi "

ass: Roque Vieira de Camargo

por: Fernando Vieira Camargo

obs: tudo oque está escrito ai acima e será escrito em outros textos, são coisas que eu soube da história do meu pai, através dele e de todos que o conhecem. Como o silêncio era um amigo dele, e hoje acho que ele gostaria de poder falar tudo oque sente, tomei os sentimentos dele emprestado e vou aqui postar oque acho que ele sente em relação ao que passou e em relação ao que ele está passando.

Fernando Lobos
Enviado por Fernando Lobos em 12/09/2009
Reeditado em 13/09/2009
Código do texto: T1806742
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