Homenagem ao Estadista

LIBÉLULA

(homenagem póstuma ao Dr. Ulysses – 031192)

Sai de Angra, fura os ventos;

vai libélula em momentos

cinco bravos transportar.

De retorno, o dever os chama,

o patriotismo os inflama,

há uma pátria a consertar.

Mas o céu violência esbanja,

chicoteia o ar com a franja

ruiva crina – fogo e fel –

galopando sobre o oceano

pisoteia-o desumano,

sob as patas do corcel.

Vai, libélula, és de aço,

sai de terra, ganha o espaço,

oscilando entre céu e mar.

A batalha travas dura.

Por que o mar por sepultura,

se feita foste para o ar?

Rosna o vento em sua faina;

na corrida nunca amaina,

da violência o estertor.

A pobre nave enverruma

contorcendo-se na bruma;

cala o canto o condor.

E o oceano voraz devora;

toda a prole órfã chora;

é órfã a própria pátria-mãe.

Oh! Libélula, és tão fraca,

a este vento que se atraca

nem o próprio mar se expõe.

Por que levas lá contigo,

para o teu eterno abrigo,

esse moço que aí vai?

É dos parvos a esperança;

é o sorriso da criança

e da pátria ele é pai.

Vai, Ulysses, singra os mares,

ou navega para Antares,

que este mundo já não é teu.

Vai, realiza o teu intento,

abrea as portas ao parlamento

com São Pedro, lá no céu.

Voa, Ulysses, que livre voas,

destas plagas tão atoa

nada mais tens a esperar.

Vai ao céu de corpo e alma;

hás de receber a palma,

mesmo estando aqui no mar.

PRECE

(040292)

Houve Deus dar-lhe humana

dura morte. Desce o pano

sobre a verde face do mar.

Jaz no fundo, e a profundez

vibra intensa a honradez

vendo Ulysses repousar.

Que de espera tudo inunda.

Que de mágoa tão profunda,

da violência o escarcéu.

Qual Elias longe avanças

sobre as celestes balanças

de corpo e alma para o céu.

Dona Mora à cripta desce;

toda a Pátria se enternece;

chora a própria honradez.

Perde o servo da humildade

tão altivo em probidade,

soberano em lucidez.

Vence as trilhas o destino

termo exato, o desatino,

que a carreira interrompeu.

Ode foi sua vida longa,

claro canto da araponga

qual exemplo claro deu.

Seja paz tua vida eterna;

haja teu corcel luzerna

para suave galopar.

Cada gesto teu e ato

use o povo a termo lato

em sua Pátria resgatar.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 11/09/2009
Código do texto: T1804172
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