Nunca te falei, João
Nunca te falei, meu irmão,
Do amor que tinha por ti,
Da importância de teus olhos escuros
E a vitalidade de teu coração.
Nunca te falei, meu irmão,
Da emoção que senti ao saber,
Que choraste ao me decidir
Ultrapassar as portas seguras
Do tão conhecido e amado lar.
Nunca te falei, meu irmão
Como era bom observar
Teu sorriso franco e aberto,
Tua visão que tinhas de mim.
Nunca te falei, meu irmão,
Que, em criança na velha casa,
Ficava a espreita esperando
Teus jovens passos na escada.
Nunca te falei, meu irmão,
Que tinha confiança em ti,
Que não podia imaginar
Uma vida sem a tua presença.
Nunca te falei, meu irmão,
Da alegria que me levavas,
Ao entrar em minha casa sorrindo,
Contando as ultimas piadas.
Nunca te falei, meu irmão,
Daqueles meses de dor,
Da agonia que me dominava,
Quando o sol anunciava a vida.
Nunca te falei, meu irmão,
Como doía aquele silêncio
E de minha admiração,
Diante da aceitação,
Diante da prova final.
Nunca te falei, meu irmão,
Que um dia cheguei a indagar
De Deus porque me arrancava
Uma amizade tão fraterna.
Nunca te falei meu irmão,
Das lágrimas escondidas,
Do aperto no coração,
Da força que inventava,
Sabendo que teria que continuar
Sem meu irmão tão querido.
Nunca te falei, meu irmão
Da saudade que me machucava,
Do vazio que deixavas
Em minha alma, escondido.
Nunca enfim te falei
Que tenho total esperança
De encontrar-te um dia
Para meu coração acalmar.