MITOAMORFOSE

MITOAMORFOSE

(homenagem a Raul Seixas)

Nascido na Boa Terra

Escolheu por vocação

O canto e composição.

Fez o que mais desejava

nessa terra de cantares,

Que a música leva aos ares

Com vênia de todo o país.

Iniciou-se no instrumento,

Para ele a harmonia,

Que em seus dedos descobria

O agrado dos seus fãs.

Era novo e muito ousado

Raulzinho, muito amado,

Transferiu-se para o Rio.

Futuro mito está amorfo

para ali se manter vivo

fez-se alto executivo

e seu dom ele abortou.

Enforcou-se na gravata

cujo nó logo desata

e o dinheiro desdenhou.

Comprou carro, casa e pão;

conquistou o espaço azado

com colarinho engomado,

nada disso lhe fez bem.

Vive triste o Raulzinho

mesmo com terno de linho

sem gostar desse trabalho.

Desvestiu terno e gravata;

fez crescer cabelo e barba

e da lira fez sua farda;

paz e amor no coração.

Na mística que o invade

viu da fria sociedade

prato cheio pra aquecer.

Preparando o repertório

leu bons livros e ansioso,

fez as letras, ardiloso,

que cantou com emoção.

Viu a mosca em sopa alheia;

diz que nasceu, sem receio,

há muito tempo atrás.

E assim filosofando

fez-se mito brasileiro

vestido de hospedeiro

de grande senso moral.

Porém cedo retirou-se,

e no além ele hospedou-se,

donde veio há dez mil anos.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 03/09/2009
Código do texto: T1789778
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