MITOAMORFOSE
MITOAMORFOSE
(homenagem a Raul Seixas)
Nascido na Boa Terra
Escolheu por vocação
O canto e composição.
Fez o que mais desejava
nessa terra de cantares,
Que a música leva aos ares
Com vênia de todo o país.
Iniciou-se no instrumento,
Para ele a harmonia,
Que em seus dedos descobria
O agrado dos seus fãs.
Era novo e muito ousado
Raulzinho, muito amado,
Transferiu-se para o Rio.
Futuro mito está amorfo
para ali se manter vivo
fez-se alto executivo
e seu dom ele abortou.
Enforcou-se na gravata
cujo nó logo desata
e o dinheiro desdenhou.
Comprou carro, casa e pão;
conquistou o espaço azado
com colarinho engomado,
nada disso lhe fez bem.
Vive triste o Raulzinho
mesmo com terno de linho
sem gostar desse trabalho.
Desvestiu terno e gravata;
fez crescer cabelo e barba
e da lira fez sua farda;
paz e amor no coração.
Na mística que o invade
viu da fria sociedade
prato cheio pra aquecer.
Preparando o repertório
leu bons livros e ansioso,
fez as letras, ardiloso,
que cantou com emoção.
Viu a mosca em sopa alheia;
diz que nasceu, sem receio,
há muito tempo atrás.
E assim filosofando
fez-se mito brasileiro
vestido de hospedeiro
de grande senso moral.
Porém cedo retirou-se,
e no além ele hospedou-se,
donde veio há dez mil anos.