99 - BOM AMIGO, BOM AVÔ...
99 – BOM AMIGO, BOM AVÔ...
Para José Cláudio
Baixinho, atarracado, tipo e cara de homem mau! Chapéu enterrado na cabeça, canivete pica fumo preso no cinto. Quem o olhasse e dele fizesse um julgamento apressado ou preconceituoso, com certeza estaria equivocado. Era um homem de poucas conversas, mas tinha um caráter inabalável. Defendia seus amigos até debaixo d´água. Segundo ele, quando veio da roça não tinha profissão definida. Assim, veio para trabalhar no que aparecesse... Foi trabalhar na mina do Cauê.
Nesta mesma época veio trabalhar na Companhia Vale do Rio Doce um rapaz daqueles mais humildes que havia lá pras bandas de Santa Maria. Além da origem, o rapaz era franzino e um tipo assim bem fracote. Haviam estudado juntos na escola rural, era um rapaz bem inteligente.
Na praça de mineração as tarefas a serem desempenhadas com produção a ser alcançada. Assim, na jornada todos tinham parâmetros mínimos a cumprir. Os mais espertos e fortes terminavam sempre entre duas e três horas antes dos demais.
O “feitor” de turma ficava atento à produção e se todos terminassem logo suas partes, ele também poderia ficar despreocupado com a sua turma. Além de alcançar as metas recebia elogios pela produção alcançada, e o bônus que fazia parte do contrato.
Acontece que o rapaz que viera da roça não dava conta do recado e o feitor pegava no pé, dizendo que lhe daria só mais seis meses para entrar no ritmo ou lhe daria o bilhete azul. Joaquim ficava tremendo de medo, e quanto mais nervoso, menos produção. Já estava com cara de quem seria mesmo sacrificado.
Observando que o rapaz precisava de uma ajuda, Avelar resolveu dar uma mão. No início o encarregado não se incomodou pelo fato do “Cirineu” ajudar o pobre a carregar sua cruz (quero dizer: atingir sua quota). Quase “vesprando” o prazo dado o encarregado resolveu dizer que não aceitaria ninguém mais ficar colocando uma pedra sequer na produção do Joaquim.
Acontece que os outros que também ajudavam o Quinzim, se afastaram com medo que sobrasse para eles a implicância do encarregado que parecia um cão de caça. Mas, todo valentão também encontra seu dia de azar. Quando implicou com o Avelar foi o momento da encruzilhada. Esbarrou na vontade e no bom coração de Avelar, que lhe disse:
__ Vou continuar ajudando sim... e você não tem nada com isso. Meu trabalho e meu tempo estão cumpridos, o que eu faço daqui pra frente não é da sua conta. Você está ameaçando Joaquim desde o início! Pare de implicar e pegar no pé do rapaz que precisa trabalhar para ajudar sua família na roça. Dessa forma você não vai se dar bem na vida. E tem mais: se você continuar, vamos acertar lá fora!
Logo que a Cia. Vale do Rio Doce começou a adquirir seus primeiros caminhões Avelar foi ser ajudante, passando logo depois para motorista, ou chofer. Tinha o pé pesado no freio e acelerador. Passar marchas então era quase sem embreagem. Puxou minério por vários anos dirigindo os cabritões, assim chamados os caminhões naquela época. Passava sobre pedras e buracos dando solavancos na carga ou na turma que estivesse transportando. E algum gaiato sempre gritava: “vá mais devagar, Seu Avelar...”
Essa fala cruzou décadas e até hoje ainda se diz para motorista do pé pesado: “calma, Seu Avelar”!
Dia destes encontrei com sua neta Cássia, lá na inauguração das melhorias, digo, da "Concha", Anfiteatro do Pico do Amor, que me disse ter muitas saudades do avô Avelar que era só carinho para com todos os seus, portanto, ao julgar pelo modus operandi pode se enganar redondamente.
Quanto ao Quinzinho, também foi transferido só que para a mecânica e acabou como chefe.
José Felipe sabe destes causos!