Paternidade e Maternidade

 

        A motivação do texto é especular sobre a paternidade. E optei aqui por me utilizar de um método comparativo, de modo a criar a interação com a maternidade. Ligação praticamente obrigatória,  dado uma não existir sem a outra, ou seja, a maternidade de uma mulher só existe para paternidade de um homem, e vice - versa.

       É claro que com o desenvolvimento da ciência biológica a fundamentação de tal ligação hoje já se faz bastante clara e vai muito além do ato sexual, mas a fecundação de um óvulo pelo espermatozóide vencedor da disputa se faz no plano celular, e por que não dizer intracelular, dado que já é do nosso conhecimento que o processo inclui o emparelhamento das tiras de DNA com os seus quarenta e oito cromossomos, ou seja, o destino biológico do descendente estará determinado  nesse instante, desvendado pela genética.

       Mas em que se pesem os esclarecimentos da ciência, o fato é que a maternidade se faz de forma física : antes de ser um bebê no mundo, o indivíduo será um feto no útero materno, numa ligação  via cordão umbilical do filho com a placenta da mãe, criando um compartilhamento sanguíneo entre os dois corpos. O embrião se desenvolverá por nove meses, o corpo feminino tomará as formas da gravidez e tal marca externa será facilmente identificável : “eis ali uma mãe”. Mas e o pai? Sem dúvida há um, entretanto no mesmo período ele não terá qualquer identificação de estar “grávido”. Ora, o que em parte pode parecer óbvio não é tão simples assim, afinal o homem é tão pai do embrião que se desenvolve em feto quanto o é a mãe, portanto o neologismo “grávido”, embora inexistente, faz todo sentido.

       Onde quero chegar com isto? É que levando em conta a hipótese de que, numa seqüência, por aproximação, os sentimentos e as emoções estão mais próximos do plano físico do que da razão e dos pensamentos, posso dizer que, no caso da mulher,  a gravidez é um processo que atua do físico para o plano dos sentidos, para depois atuar nas emoções e sentimentos, e só depois, na razão. Caso inverso ao do homem. Para ele, o primeiro sentido da gravidez é o da razão, é a sua percepção racional. É claro que todo pensamento tem um conjunto de sentimentos e emoções a ele vinculados, e isso explica perfeitamente a reação diferenciada de cada homem à notícia de que irá ser pai. Pode alguém argumentar que tal ligação físico-emocional é improvável, mas eu refuto: lembro-me dos claros processos de somatização, onde perturbações emocionais acabam gerando conseqüências físicas. Mais ainda, cito o interessante exemplo da chamada “gravidez psicológica” que chega a ocorrer inclusive entre fêmeas de animais.

       Então, a paternidade é algo que vem de fora para dentro do indivíduo, é uma leitura racional, que só depois se transforma em emocional. É antes mais social e externa, do que individual e interna como é a maternidade. Ponto comum entre ambas é o dever. Não apenas dever como função biológica, mas dever como função moral, ético e social. Dever que na mãe, pela proximidade, se dá pelo próprio sentir, no pai se faz pelo pensar, para depois sentir.

       Um aprendizado prazeroso de dever, um pelo caminho da emoção, outro pelo caminho da razão, e eis respectivamente a maternidade e a paternidade, inexistentes quando desligadas uma da outra, e fundamentais na renúncia de células de si para formar um novo organismo. Eis o biológico servindo de alicerce do psicológico. Eis parte da verdade. É fato que é fundamental, e assim em algum momento começou tudo, de um princípio feminino que conservava e de outro masculino que impulsionava a evolução. Talvez um pouco de Deus, pois repito, Deus é Pai e Mãe de todos nós.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 08/08/2009
Reeditado em 08/08/2009
Código do texto: T1744095
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