Dia dos pais...
A Rua São Bento estava lotada
como sempre,
bem parecida a uma enxurrada
de passantes,
que buscavam aqui e ali um
presente bonito,
para dar, com muito amor e
carinho,
ao seu pai,
pois se há datas importantes,
essa é uma delas.
Hum...mas que alvoroço nessa
rua...que ruídos !
Camelôs ambulantes
correndo
atrás de você,
na esperança de poder
vender
e ganhar algo,
talvez um pai pensando
no leite
diário do filho.
Percebi que essa rua estava
apinhada de pais,
e nem havia me dado conta...
nem havia notado,
porque certas coisas se
passam
bem no nariz,
e ,distraídos, nem sequer
damos a atenção
devida.
Parei para olhar uma
vitrine de
ternos e sapatos,
porque sempre gostei
de admirar
tais vestimentas.
Sempre estão impecáveis
e tudo bem
arrumadinho.
Envolto nesses meus olhares
alguém
me puxa
pelo braço, pedindo um
minuto da
minha atenção.
Explicou rapidamente que
era um ex-presidiário,
e que havia sido assaltado
na esquina seguinte.
Alguém lhe apontou um
revólver e
pediu a carteira.
Com ar lacrimejante me
pediu que lhe
ajudasse.
Enfiei a mão no bolso e
dei-lhe 10 reais
para metrô.
Agradecido, seus olhos
mudaram de
cor na hora.
Logo, desapareceu entre
a multidão
dessa rua ,
e fiquei olhando de novo
a linda vitrine
das roupas.
Nesse momento a vitrine
perdeu o
sabor que tinha.
Além do mais, eu nem
usava mais
esses ternos ,
e também não usava
mais camisas
com gravatas.
E então porque estava ali
parado tão
embevecido ?
Afastei-me da loja chique
e da vitrine
deslumbrante,
e segui no meio do
frenesi de
centenas de pessoas,
que seguiam buscando
seus presentes
pelas lojas,
todas elas super-lotadas
porque
dia de pai uiiiiiii...
é assim mesmo...todos
querem
comemorar a data.
Estava agora caminhando
em
direção ao metrô.
E nesse percurso fui
pensando nesse
dia dos pais
Minhas mãos estavam
vazias...não
havia presentes,
pois meu pai partira
mais cedo do
que se esperava.
E também não iria receber
nenhum
presente de filhos,
porque não tinha nenhum...
a vida não me
havia dado
essa possibilidade como
ocorre em
todas as famílias.
Entrei na fila do metrô
São Bento...
para comprar o
bilhete ,quando, de repente,
alguém me
puxa pelo braço.
Ao olhar vejo que quem me
puxava era
o ex-presidiário,
que logo voltaria a contar
de novo
a mesma estória.
Enfiei de novo a mão no bolso
e puxei
a carteira,
separei uma nota de
cinquenta reais,
e lhe entreguei.
Ele olhou para mim
encabulado e
me disse: Será que
o senhor não se enganou
com uma
nota de cinco reais?
O senhor está me dando
demais...
essa é de 50.
Não...não...Não estou te
dando
demais não...
Isso é para você comprar
um presente
para teu pai.
Ah senhor...eu nem sei quem
é meu pai...
não tive.
Então compra um bonito
presente
para tua mulher.
Ah senhor a minha mulher
morreu
faz seis anos.
Então dá um presente para
um de
teus filhos.
Ah senhor...minha mulher teve
câncer
logo cedo,
e não pudemos ter filho
algum...
não deu mesmo.
Então faz uma coisa: compra
um presente para você,
bem bonito, porque acho
que você
está merecendo.
Olhando-me agradecido...
ele
guardou o dinheiro,
e depois disse: O Sr. sabe
que isso nunca
aconteceu comigo ?
O senhor
é uma pessoa
de bom coração !
Batendo no ombro dele,
lhe disse:
sim eu sei
que tenho bom coração,
porque foi meu pai quem
me ensinou
a ser bom.
Felizmente tive um
excelente pai.
Ele me olhou pela última
vez ,
agradeceu,
e desapareceu na multidão.
Ele era igual a mim...não
tinha pai
e nem filhos.
Mas entre nós havia uma
grande
diferença :
Eu tive um pai bom...
e ele nem sabia quem era
o pai.
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Pequena estória que fiz em 06-08-09 às 18 h
em SP -Lua Cheia - sol médio - 20 graus.
Beijos e abraços para você...Boa sexta...
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