Luís Vaz de Camões
Gravura em cobre de Fernando Gomes. É o único retrato do poeta reproduzido do natural.


UM DIA PARA A LÍNGUA PORTUGUESA


No dia de hoje, cerca de 250 milhões de pessoas estarão voltadas a uma reflexão sobre a língua que nos serve de meio de comunicação e pela qual veiculamos nossos sentimentos, emoção, história, perspectivas e identidade cultural. O 10 de junho assinala a morte de Luís Vaz de Camões, autor do poema épico "Os Lusíadas", que narra as viagens e a saga de Vasco da Gama ao redor do mundo, celebrando a glória das conquistas portuguesas.

Com as expedições lusitanas, vencendo mares e continentes, veio seu maior legado, que haveria de vincar indelevelmente a alma das novas nações, a língua portuguesa. Hoje é a língua oficial de oito países - Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Cabo Verde. Além disso, o português é falado também em diversas regiões do mundo, tais como a Galícia na Espanha, Casamansa no Senegal, Goa na Índia, Macau na China.


O Brasil, com uma população de 186 milhões de habitantes, tem a maior parcela de falantes do idioma lusófono. A ele, incorporamos nossa contribuição, com a sonoridade das vogais, expressões idiomáticas, ortografia, vocábulos singulares advindos da contribuição das etnias que conformaram nosso povo. À constelação de escritores clássicos portugueses, acrescentamos poetas e escritores, como Drummond, José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, que se uniram a Gil Vicente, Camões, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, entre outros, no culto à "última flor do Lácio", como definiu magistralmente nossa língua Olavo Bilac.

Nosso destino como nação está ligado indissoluvelmente ao destino da língua portuguesa. O tratamento que lhe dermos será índice do nosso estágio de desenvolvimento. Quanto mais a usarmos de forma correta e expressiva, mais aptos estaremos a preservar uma identidade no cenário das civilizações, com reflexos na coesão interna do país e no seu desenvolvimento cultural, social, econômico, educacional e tecnológico. Como afirmou Fernando Pessoa, a nossa pátria é a língua portuguesa. Cultuemos, pois, o nosso idioma, elo que diz de gerações, conquistas, heroismos e odisséias singulares. A alma de uma nação é sua língua. Parafraseando Camões, é seu "fogo que arde sem se ver."

Editorial do jornal gaúcho CORREIO DO POVO, edição de 10 de junho de 2006. (transcrito)