AO NOSSO CICERONE AMIGO!
Ainda muito cedinho e ele já estava lá, a nos esperar para a caminhada.
Parecia saber das coisas e dos caminhos das montanhas.
Assim que nos via, vinha correndo de longe, e sempre aportava aqui ou acolá a esperar que observássemos as melhores paisagens, os pontos mais belos.
Não, aquilo não era ao acaso.
Porém, se às vezes apertávamos o ritmo da caminhada, ele se colocava a frente e já bem distanciado ficava a nos esperar como quem cuida METICULOSAMENTE de alguém.
Achei aquilo impressionante.
Quando o perdíamos de vista, bastava gritar seu nome que ele retornava pacientemente.
Às vezes ofegante demais.
Certo dia percebi que foi mas, muito cansado, conosco não voltou.
-Billy, Billy, ecoou meu grito na atmosfera fria daquela estrada de terra batida e vermelha, enlameada pela chuva do dia anterior.
Não tardou ele reapareceu ao longe, a passos lentos , todo sujo de lama, gemente ao carinho das nossas mãos.
Rapidamente diagnostiquei: Billy, um ancião labrador cicerone daquela pousada já está prestes a se aposentar.
-Billy é hora do remédio! -alguém gritou na porteira.
E assim, mesmo que muito ofegante, ainda arriscou um banho nas águas geladas duma nascente, se livrou da lama, e obedientemente deixou que gotejassem sobre a sua língua algumas gotas amargas dum cardiotônico.
Na manhã seguinte, viu que retornaríamos ao mesmo caminho, latiu duas vezes, veio ter conosco, foi até a porteira e depois sofregamente voltou atrás a se espreguiçar sonolento sob o sol que acabara de nascer...próximo a soleira da porta.
Hoje ao olhar a sua foto senti ternura e muita saudade.
Fiquei me perguntando que mistério é esse que existe entre os cães e os homens, em cujos laços tão frescos de amizade se solidifica um sentimento forte, profundo e eterno.
Ao nosso Billy, com carinho.