MEU PAI-(HOMENAGEM À POETISA JAILDA SANTANA AQUI NO RECANTO
JAILDA SANTANA É A MAIOR POETISA BARRAMENDENSE DE TODOS OS TEMPOS E UMA DAS MELHORES PROFESSORAS DE PORTUGUÊS DA NOSSA TERRA. ATRIZ, BANCÁRIA, PROFESSORA, POETISA, CANTORA, INSTRUMENTISTA, UMA PROFISSIONAL QUE ATUA EM VÁRIAS ÁREAS, QUASE CHEGANDO A PERFEIÇÃO. NOSSA TERRA ORGULHA-SE E MUITO DESTA FILHA QUERIDA, QUE HOJE RESIDE EM IRECÊ, DEPOIS DE PASSAR UMA CURTA TEMPORADA TRABALHANDO EM SÃO PAULO. POR ENQUANTO ELA AINDA NÃO TEM SEU CADASTRO AQUI NESTE RECANTO, MAS ENQUANTO ELA NÃO NÃO SE JUNTA À NÓS, VAMOS DIVULGAR A PARTIR DE HOJE ALGUNS TRABALHOS DESTA POETISA DE MUITA QUALIDADE E CONTEÚDO. INICIAMOS COM O POEMA MEU PAI, NUMA HOMENAGEM AO SAUDOSO ANTONIO CURTIDOR, QUE MORREU TRAGICAMENTE, CAÍNDO DA PONTE DO AÇUDE, PERTO DA SUA MORADA.
MEU PAI
Jailda Santana
Pai! Nunca mais cantei ou compus versos.
Minha alma sofreu um retrocesso
Meu maior fã se foi tão de repente
Como se dissesse: vai filha, segue em frente, sem mim!
E eu tive que seguir, pai!
Criança sem colo, sem berço, sem lar,
Sem tua mão para eu me segurar.
Confesso que chorei, caí mas levantei-me
Para não te decepcionar
Porque, nenhum filósofo no mundo,
Nem Sócrates, Mendel nem Sartre
Falavam-me com tanta propriedade
E agora na saudade, tuas palavras vêm falar
Bendita eu sou em ter colhido do universo infindo
O GEN que te fez único:
Sem ter bens, nada me deixou faltar,
Sem nada conhecer de escolas me ensinou a pensar
Submetido a duras labutas, eras forte
Sem ser cantor usavas Gonzaga para me ninar.
Quem mais no mundo velaria o meu sono?
E abandonado nunca ofereceu abandono?
Quem mais conheceria os recônditos do meu ser?
Quem mais riria das minhas trapalhadas
E falava sério, com voz pausada
Diante de alguma asneira que eu viesse a cometer?
Vejo o lajedo luzidio
O vento na janela batendo frio
E tu me acalentando para que eu adormecesse
Eu tremia de medo e agarrada ao seu peito fremente
Vencia o temor insistente
E dormia até que o dia amanhecesse
Vejo teus cabelos grisalhos, esvoaçantes,
Teus músculos retesados, burilados pela luta
Vejo o banquinho de couro
Obra de tuas mãos abençoadas...
Como eu queria ser forte como tu, meu pai!
Suportar os açoites da vida sem se queixar
E querer aos filhos sem limites...amar...
O cheiro acre do curtume
Ficou impregnado em minha alma
De lá tiravas todo o meu sustento
Caminhando só sem nenhum alento
Esquecestes dos teus próprios sonhos
Para que eu acalentasse os meus,
Pra me ver crescer, teu espírito envelheceu
Trabalhou duro pelo meu conforto,
Engoliu tuas lágrimas para ver um sorriso no meu rosto.
Sei que choraste sozinho
Que teus pés se feriram no caminho
Mas tuas lágrimas, teu sofrimento foram reprimidos
Porque a tua vida éramos nós, teus filhos.
E eu, egoísta e fria nunca soube dizer-te: “obrigada!”
A vida me tirou o direito de ver-te pela última vez
A ponte que te traiu estupidamente,
Levou teus passos para longe de mim
Onde só os alcanço com a força do pensamento.
Tento lenitivo para a ferida que tua morte me deixou
Morte? Mas que morte?
Ela é apenas o choque absurdo
Para que descubramos que nada somos neste mundo
Minha alma pequenina agradece
Mas até aqueles a quem amamos, perecem
Fiquei aqui para provar que tu exististe
Forte? Fraca? Ignorante e ignorada
Ainda sou tua filha: vitoriosa porém triste.
Pai!
Tua filha cresceu
Todavia criança,
Ainda se sente impotente pra se defender do mal
Porque do alto dos meus trinta e sete anos de experiência
Eu ainda julgava que tu eras imortal.
Barra do Mendes-Ba, 08 de Agosto de 2003.