74 - O XERIFE DA ÁREA...
74 – O XERIFE DA ÁREA...
Um caso bem Itabirano.
Ele era daqueles chefes à moda antiga. Estava mais para capataz que gerente ou como se diz hoje em dia gestor. Sua administração embora eficiente era xerifada. Como um poderoso chefão, é verdade, mas dele não se poderia dizer: má pessoa.
A qualquer hora do dia ou da noite no serviço ele aparecia. Quando você sequer sonhasse ou imaginasse, ao seu lado ele estava, como se fosse um fantasma. Ás vezes chegava assobiando como se estivesse indicando “tô chegando e estou bem”! isto é, de bom humor. _ Meu time do coração ganhou estou vendo o mundo com outras cores! Então, alguém gritava: lá vem o homem! Sempre havia uma pessoa encarregada de transmitir suas ordens.
Acredito que naquela época um pensamento e fato quase dominante: homem peão e a mula Jóia só no chicote e no laço. Talvez até por falta de estudo e estilo de outros, suas maneirices eram reproduzidas como cópias fac simile. Mesmo assim, se imaginava como ele poderia dar conta de chefiar tanta gente.
Seus domínios territoriais iam do administrativo à mina, do futebol (como sua religião), até a boca do forno da fundição. Aqui nada se fazia sem que seu dedo aparecesse. Seu desempenho e participação como se fosse possível ia além de cem por cento. A partir dele na linha de comando era trabalho de equipe. Mesmo assim, havia alguém que na orquestra desafinava, saia do ritmo.
Aos ouvidos atentos do maestro, quando a juriti não cantava alguém ia transferido de área, até de mina. Ia purgar seus pecados em outra freguesia ou estado. Aqui na terra o castigo era na Mina de Conceição, a última fronteira ou bastião, the last chance! Ainda assim, já disse e repito: no ambiente de trabalho em que pese a obediência e o cumprimento à risca, fatos e brincadeiras aconteciam... Era um olho no gato e outro no peixe, alías, peixe não era bem nossa praia. Mas da carne que se buscava lá do açougue da Companhia era comum retirar um bom bife de cada quilo e colocar na chapa dentro do quartinho de aquecer as marmitas, com sal e temperos que havia, principalmente a pimenta. Há um caso que o Ganso contou e reafirma tô mentindo não! Numa dessas que ele aprontara, ao serralheiro, trombonista de primeira, pediu para olhar o cenário. Se percebesse alguém chegando avisasse, ficasse atento. Distraiu-se o vigia, de repente o homem chega. Percebendo o cheiro no ar para o local se encaminhou eles pensaram lá vem bronca da grossa! O homão chegou, pegou o mais suculento, jogou na palma da mão, soprou prá lá e pra cá jogou na boca e passou pra dentro, saiu limpando as mãos assobiando contente!
Outro fato insólito e acontecimento hilário. Havia aquele ou vários que gostavam de fuçar as marmitas dos companheiros, sabendo desta mania o Guedes ajudante muito nervoso vivia dizendo: - Lá em casa já falei para não colocarem ovo frito com macarrão! Por mais de uma vez jogou a marmita no buracão. O cabra era mesmo nervoso e só tinha a mãe morando com ele. Sabia melhor que ninguém o que havia na despensa. Mesmo assim num destes dias, num ataque de histeria, jogou a marmita no chão e sapateou sobre ela. O cabra era tão nervoso que de ataque do coração acabou morrendo bem cedo.
Para os mexedores, estes já havia reprimenda constante até ameaças: se alguém fosse apanhado levaria três dias de gancho. Mesmo assim sempre havia um gaiato que brincava assim: Na marmita eu não mexo bem avisado estou, mas no café com leite na chapa ou no banho-maria esquentando, tomo e saio de fininho. Eis que boa lhe aprontaram. Deixaram a armadilha preparada no vidro de café com leite: puseram café com alvaiade! O infeliz tomou, passou mal e foi reclamar com o encarregado que disse: - Deixe de ser cara de pau, vá reclamar com o bispo! Mas o cara era mesmo avesso, passou do café com leite à sobremesa, tirava um pouco de cada, metia a colher na boca lambia o côncavo e o convexo e mesmo sem lavar a colher enfiava em outra vasilha para tirar mais um pouco. Mas se deu mal novamente, retirando doce do pote da capanga do Clemente, assim dizia todo contente: Mamonite ou batatite, no seu dizer, inquiria doce de mamão ou de batata? Preparam graxa amarela especial para escavadeira e perfuratriz com cobertura de açúcar e canela. O Sô Prafrente que não era o Victor encheu a colher e mandou pra boca e pra dentro, vomitou até as tripas: Nem mamonite nem batatite o guloso comeu graxite!! Quer confirmar se é verdade, pergunte ao José Diniz, ao Vitamina, ou Plínio Eliziário. Garanto que confirmam e assinam em baixo, Pedro Camilo também sabe disso!