DAS CINZAS DA HISTÓRIA
Aos Gurjão, em dor perene
Jovem, forte e bem criado,
Na Universidade havia,
Lá pelos “anos de chumbo”,
Um estudante inteligente,
Filho de boa família,
O Bérgson Gurjão Farias.
Este moço militante,
Sendo de esquerda notória,
Juntou-se a outros amigos,
Largou-se de Fortaleza
E, distante de seus pais,
Fez-se às selvas do Araguaia.
Além do seu romantismo
De um social ativista,
Bérgson mostrou-se batavo,
Diligente e destemido,
Já desde os bancos de escola,
Um nato líder de classe.
Embrenhado na guerrilha,
Meio a pequeno punhado
De mais universitários,
O revel Bérgson Gurjão
Meses ficou na floresta,
Onde se dão tiroteios.
Armadas até os dentes,
Então, as tropas do Exército,
Mil vezes mais numerosas,
Fazem baixas progressivas
No grupo dos quixotescos
Que o PC do B formara.
Apanhado por soldados,
Quase imberbe, o guerrilheiro
Foi numa árvore posto
De cabeça para baixo,
A receber coronhadas,
Gargalhadas e cuspidas.
Por fim, cortada a cabeça,
O corpo do mártir consta
Como “desaparecido”,
Na verdade trucidado,
Com requintes de sadismo,
Nunca descrito com tintas.
Anos e anos, a fio,
De Bérgson seus entes não
Sabem onde os ossos andam.
E procuram que procuram,
Sem que os vermes matadores
Dessem norte dos despojos.
Agora, por fim, Brasil,
Deus e o mundo têm ciência
Que restos mortais colhidos
São mesmo do tão menino
Que vermes vis, tão perversos
(Tal a ruindade) mataram.
Agora pode do Bérgson
A família dele, enfim,
Dar-lhe um leito derradeiro;
Um local certo e decente,
Onde mártires e heróis
Entram no solar da História.
Fort., 08/07/2009.