MANOEL GOMES DE AGUIAR , SUA VIDA, UM LEGADO ÀS NOVAS GERAÇÕES
A vida de Manoel Gomes de Aguiar deve ver vista como um legado às gerações que o seguiram e que ele procurou apoiar e orientar com sua maneira simples e direta de pensar, agir e viver.
Duas correntes do pensamento científico procuram explicar o que determina o comportamento do ser humano. Uma delas afirma que o homem é o produto do meio em que vive; a outra, mais eclética e empírica, vê na genética a formação dos caracteres básicos que vão influenciar esse comportamento.
Aqui comento sobre a vida de Maneca do Brejinho; a vida de uma pessoa com o qual tive uma longa convivência, e assim posso afirmar que Seu Maneca, como também era conhecido, beneficiou-se das duas teses defendidas pelas correntes de pensamento científico acima mencionadas.
Senão vejamos: Seu Maneca nasceu em um povoado – Poço dos Bois, município de Cedro de São João, em Sergipe – onde as pessoas são dotadas de um estilo de educação primoroso, herdado dos seus antepassados, dos troncos familiares daquele povoado, no qual nasceram e viveram os seus pais Manoel Gomes de Novaes e Afra Amélia Aguiar.
Os pais de Seu Maneca viveram no tempo em que o mundo era eminentemente “rural” e se vivia no campo para produzir alimentos. Uma época em que as jornadas de trabalho chegavam a ultrapassar 13 horas por dia, utilizando-se o trabalho físico e quando as ferramentas de trabalho eram especificamente a foice, a enxada e tração a animal.
Portanto, Seu Maneca recebeu de seus pais os elementos genéticos básicos e a influência do ambiente de família e do local onde vivia que vão ajudar na construção de sua personalidade.
Assim, Maneca recebe de seus pais o “néctar” que usará no “cortiço” para construir com amor, trabalho e carinho o “mel” que oferecerá a seus familiares, à sua comunidade e a tantos quantos que com ele viriam a conviver.
Maneca Aguiar, Maneca do Brejinho ou simplesmente Maneca soube muito bem aproveitar tudo que se lhe foi oferecido pela vida, na construção de um caminho de retidão, coragem, amor, trabalho, muito trabalho e, acima de tudo fé.
No início da vida, junto aos seus pais e ao seu único e querido irmão João Gomes de Aguiar, outro homem de bem, dedicou-se ao campezinato de subsistência que se fazia na época, produzindo milho, feijão e criando gado, em pequena quantidade, para a produção de leite.
Daí para frente, o homem de visão saiu em busca de novos horizontes, trabalhando como chamador-de-bois, carreiro de carro-de-bois e tocando comboio de burros, em viagens de transporte de mercadorias e mantimentos de locais e cidades bem distantes, para abastecer o comércio realizado pelas bodegas de seu povoado e adjacências. Viagens longas, cansativas e desgastantes, mas que sempre encorajavam o jovem e visionário Maneca a continuar, pois ele acreditava no futuro pelo trabalho e pronunciava sempre: “O homem que não trabalha não tem futuro”.
Agora Seu Maneca se divide entre a agricultura, o tocar os burros com mercadorias , ao transporte de algodão para a fábrica em Passagem (atual Neópolis), no estado de Sergipe e, no período de corte de cana, ao transporte de cana no carro-de-bois para os engenhos e usinas de açúcar da Cotinguiba e regiões circunvizinhas. Nessa lida diária incansável Seu Maneca se orgulhava de haver trabalhado como carreiro-de-bois, tendo ao seu lado um fiel amigo, o Sr. Raimundo José dos Santos, o “Mestre Raimundo”, que começou como seu chamador de bois, quando ainda garoto, tornou-se o respeitado carreiro que seguiu Seu Maneca durante toda a sua vida, e passou a ser um integrante respeitado de sua família, juntamente com sua esposa, a trabalhadora Mariazinha, e filhos. “Mestre Raimundo”, que nasceu no mesmo dia que Maneca, hoje 14 de maio de 2009, ao completar 81 anos, ainda enche os olhos de lágrimas ao recordar a vida que viveu ao lado de seu grande amigo, Seu Maneca.
Nas viagens que empreendia com seu carro-de-bois para transportar cana-de-açúcar para as usinas na Região da Cotinguiba, conhece em Laranjeiras uma moça bonita pela qual se apaixona loucamente e que vem a ser a sua esposa, fiel confidente, braço forte em sua vida. Essa moça é Maria Anita do Nascimento Aguiar... Anita, como a chamava docemente.
Maneca e Anita formam um casal que vai construir, ano a ano, uma família numerosa. Juntos iniciam a construção de um novo mundo familiar: filhos, netos, bisnetos, noras e genros passam a girar em torno dos dois que são vistos como ídolos pelo trabalho, pela luta, pela maneira carinhosa e pelo ombro amigo sempre disponível.
Muitas lutas, muitas conquistas e algumas perdas que chegaram a comover fortemente o casal, mas a fé em Deus, sempre cultivada na ambiente familiar, foi capaz de fazer com que continuassem Maneca e Anita a fazer dos tombos alavanca para luta de cada dia.
Seu Maneca e Dona Anita construíram uma grande e importante família. Foram 11 filhos, muitos netos e bisnetos que continuam até hoje a seguir o exemplo deste casal que foi e é referência de luta, trabalho, honestidade e fé.
José Teles