À DOCE MAITH...

UM DOCE COMENTÁRIO QUE RECEBI:

Já que você gosta de velhinhas, venho me oferecer para ser a protagonista de seu proximo texto. Tenho 82 bem vividos e pretendo chegar aos noventa pois minha meta é tirar uma foto com um trineto no colo. Minha bisneta mais velha tem 17 anos e está namorando firme. Quem sabe? Que você aproveite bem a sua segunda metade de vida. Pode ter a certeza de que é a melhor porque pelos caminhos sinuosos vamos aprendendo a levar conosco a felicidade, bem guardada no peito para que nenhuma força exterior interfira nela. Um beijo quase centenario.

Enviado por Maith em 22/06/2009 11:24

para o texto: VIVENDO...APRENDENDO E REVIVENDO! (T1661310)

Maith:

Saiba que a minha admiração pela terceira idade vem desde criança e apenas se fundamentou com o tempo.

Já naquela época, por volta dos doze anos, eu tinha muitos amigos com no mínimo dez anos à minha frente, e certa vez, na cidade do interior aonde minha mãe nasceu, palco das minhas férias de então, eu fiz, no auge dos meus doze anos, amizade como todas aquelas senhoras beatas da igreja, e no final da missa as levei para casa e as apresentei:

-Mãe, essas são minhas novas amigas...lá do coral da igreja.

Como eu gostava de cantar juntamente a elas!

Hoje, depois de já ter vivido provavelmente mais que a metade da minha vida para observar, e também por conviver com idosos todos os dias, digo de carteirinha que são as pessoas que mais enriquecem o meu mundo!

Pelas histórias, pelos ensinamentos, até pelas dificuldades das perdas naturais e impostas , principalmente pela adversidade de se viver num país que considero ainda distante das conquistas reais de cidadania, principalmente para os da terceira ou da quarta idade.

Obviamente que há classes sociais mais privilegiadas, que não sentem tanto as privações de cidadania, porém tal situação é pontual, e o que vejo muito, mesmo numa cidade como São Paulo, ainda são situações de segregação como a que descrevi no texto que você tão gentilmente comentou, e que tanto mexeu comigo a ponto de me fazer escrever.

Passar pelo tempo nesse mundo, nem sempre é privilégio, tampouco escolha.

Alguém certa vez me perguntou com desconfiança, o que eu nunca esqueci:

-Mas...você gosta mesmo de velhinhos?

Percebo nitidamente que nessa nossa sociedade que prega a beleza da juventude perpetuamente,é muito difícil, às vezes, se olhar no espelho.

As pessoas não confessam, racionalizam o medo, porém a maioria teme o processo de senescência.

Sentem que é difícil , sabem que a teoria é diferente da prática, sentem medo de serem rejeitados.

E nessa busca alucinada pela juventude, na tentativa desenfreada de se reconstruirem por fora, esquecem que o verdadeiro prazer de viver, bem como a tal da juventude eterna e o seu poder de "sedução", na verdade vêm de dentro para fora.

É muito triste ver pessoas que perdem o tempo apenas atrás do corpo, e esquecem do principal: aproveitar do tempo para fazer a diferença em suas vidas e nas vidas dos outros, para enfim serem felizes!

Porém, o que devemos enfatizar é que, se viver é uma experiência fascinante, viver com conhecimento agregado pelo tempo é algo indescritível.É como se realizássemos uma tese de doutoramento de vida.

A construção das nossos caminhos é algo artístico e dinâmico, é como se amalgamássemos uma argila todos os dias, amassando daqui e dali para aperfeiçoar o resultado da obra...para aceitar o que já está feito porém lapidar o que nos pode ser melhor.

Passar pela vida sem enxergar o essencial me parece vazio, um total desperdício do tempo.

E eu tenho encontrado em cada idoso que conheço e me relaciono, sempre uma pérola a mais para o tesouro de aprendizado da minha existência.

Falo isso sem bajulação, mas com a constatação do coração.

Porque olhar para trás para apreciar as edificações já realizadas, ainda que seja a dos outros ao derredor, nos dá a esperança de melhor acertar na difícil arte de passar pelo tempo...e seguir pelos melhores caminhos.

Pessoas como aquela senhora do meu texto e como você, são deveras iluminadas, e com certeza estão pela vida para aprimorar o aprendizado de quem está chegando...simplesmente porque têm a luz que vem do espírito, não envelhecem nunca...e isto é o que nos ilumina a vida!

Parabéns, maith.

Você será a protagonista da primeira foto do seu trineto sim, porque sempre foi e continua a ser a protagonista da sua própria história.

Tenha toda certeza disso.

Um abraço carinhoso a lhe reverenciar, e obrigada pela oportunidade de lhe ecrever.

Da colega do "recanto da vida"...

Mavi