Ao poeta das coisas vivas

Nuvens escuras tocam o cume dos montes ao redor da urbanidade de concreto árduo que contam ao vento a vida fresca e límpida de sua existência sublime...

cobrem-me, as nuvens, quase me tocam... vejo o pequeno vasto mundo construído em meu torno que não é belo em si mesmo e cuja crueldade fere mas há ainda os raios de sol a pontilhar os caminhos e encantar os espaços desconhecidos...

Olha a teu mundo como se tivesses recém descoberto a visão, e verás quanta luz jorra de um além-humano que se reflete pois sobre as medíocres vidas a se moverem...

Desejo apenas espraiá-la, caro, expandi-la sobre os seres capazes de enxergar...

Como uiva, uiva, o vento! neste instante. Que intensas dores carrega! As minhas, as tuas, as nossas todas. E espalhou - espalhou! as nuvens escuras de chuva... dissipou-as... aos poucos, o azul ressurge, manso...

Escuta o vento quando estiveres só, escuta-o quando estiveres triste, escuta-o quando estiveres em dúvida... ele leva o murmúrio que não pronuncio... e todo meu canto a teus ouvidos para que sintas que lembro...

saberás que as feridas de tuas asas serão curadas pelo poder profundo de minhas lágrimas...

e voarei como posso apenas porque alguém, um desconhecido cuja alma adivinho, um anjo que esqueceu como voar, um poeta que embala meus sonhos, um homem que me torna viva, fez-me acreditar na vastidão possível de abandonar sem temor o chão sob os pés...

Clarissa de Baumont
Enviado por Clarissa de Baumont em 09/06/2009
Código do texto: T1639971
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