VIDA E OBRA DO PRÍNCIPE DA TROVA - LUIZ OTÁVIO

VIDA E OBRA DO PRINCIPE DA TROVA – LUIZ OTÁVIO.

IRAÍ VERDAN.

Em 26 de agosto de 1990, a Academia Mageense de Letras fez do acadêmico poeta - Trovador Haroldo Rodrigues de Castro, que na ocasião era Presidente da UBT em Magé-RJ, primeiro ocupante da Cadeira nº 27, que a fundou tendo como Patrono o Trovador Luiz Otávio. Em 16 de dezembro de 2004, fui empossada nesta "Congregação de Intelectuais" do nosso Município, para ocupar a cadeira vaga de Haroldo Rodrigues de Castro, falecido em 29 de dezembro de 2003, que desde a referida data, sou a sua segunda ocupante. É meu dever, portanto, difundir as suas obras em sua memória e em memória do Patrono LUIZ OTÁVIO. Neste momento, em breve palestra estarei relembrando alguns fatos de sua VIDA E OBRA.

LUIZ OTÁVIO – O POETA.

Luiz Otávio foi o pseudônimo que Gilson de Castro adotou para assinar suas trovas, poesias e outras manifestações literárias.

Gilson de Castro nasceu no Rio de Janeiro em 18 de julho de 1916. Era filho de Octávio de Castro e Antonieta Cerqueira da Mota Castro.Formado em Odontologia, pela Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil em 1936, exerceu sua profissão de cirurgião dentista em consultório à Rua do México, 119, 9º andar, no Rio de Janeiro. Sua clientela não ficava restrita apenas no município do Rio de Janeiro, mas se estendiam a São Paulo, Santos, Belo Horizonte e outras cidades vizinhas, que vinham se consultar com ele, pela fama de bom cirurgião dentista.

Por volta de 1938 começou a enviar seus versos para os jornais e revistas, sempre que conseguia vencer a batalha entre o trabalho e a vontade de escrever, e assim, constantemente enviava os seus escritos, que eram ocultos sob pseudônimo. Tinha receio de misturar a vida profissional com a literatura. Fazia os dois trabalhos por vocação e paixão. Os jornais e revistas importantes e mais lidos da época, começaram a editar e a divulgar poesias e trovas de Luiz Otávio, que podiam ser encontradas no “ Correio da Manhã”, “Vida Doméstica”, “ Fon Fon”, “ O Malho”, “Jornal das Moças”, revistas “O Cruzeiro” de 1939 a 1941 e “Alteroza” em Belo Horizonte.

A trova pouco a pouco, tomou conta do coração do poeta, assumindo um papel de liderança na sua vida. Sua confissão:

A trova tomou-me inteiro,

Tão amada e repetida

Que agora traça o roteiro

Das horas da minha vida!...

Luiz Otávio, certa feita fora apresentado ao renomado poeta, da Academia Brasileira de Letras Adelmar Tavares, bastante conhecido no meio artístico literário, pelo consagrado poeta A. J. Pereira da Silva, que o levou em seu apartamento em Copacabana, quando iniciou uma amizade que ali mesmo surgiu, e contribuiu para a ascensão da Trova na vida de Luiz Otávio.

Encontrava-se em recuperação de um problema de saúde na Fazenda Manga Larga, em Pati de Alferes, quando teve mais tempo de conhecer este valioso poeta da Academia Brasileira de Letras e consolidar sua amizade como edificante e solidificada pela Poesia. Foram amigos até os derradeiros dias de A. J. Pereira da Silva, que já passava dos sessenta anos, enquanto Luiz Otávio não passava dos vinte e dois anos nesta época. A diferença de idade não foi obstáculo para que as horas de conversas fossem sempre agradáveis a ambos, pois eram portadores de corações capazes de vibrar em ritmo de poesia e conviver harmoniosamente.

Após o falecimento de Antonio Joaquim Pereira da Silva, a viúva do acadêmico doou a preciosa Biblioteca do Poeta ao seu particular amigo Luiz Otávio, que por sua vez, ao transferir sua residência para Santos, em 1973, doou parte do valioso acervo juntamente com os volumes de livros de sua estante própria, perfazendo um total de mil livros, todos catalogados à Academia Santista de Letras, que só então teve sua Biblioteca formada. A ASL era presidida pelo Dr. Raul Ribeiro Florido que fez o transporte. Luiz Otávio não pretendia nada para si e deixou bem claro em carta (era do conhecimento geral sua quase aversão às Academias, em virtude do seu temperamento). Mas, pediu por uma questão de justiça que numa das estantes fosse colocado uma placa que levasse o nome do poeta A. J. Pereira da Silva. Luiz Otávio recebeu um ofício de confirmação do seu pedido pelo presidente Dr. Nilo, da ASL.

A Poesia de Luiz Otávio torna-se cada vez mais divulgada.Jornais de outros estados o queriam como escritor e o acolhiam em suas páginas, tendo ao seu dispor colunas Literárias de crítica poética, onde comentava sobre livros, publicava trovas, poesias e arrebanhava fãs de todas as idades. Tornou-se Líder de um Movimento Trovadoresco, mesmo que ele não tenha procurado galgar este passo.

Era um idealista, lírico, por seu profundo modo de ser.Tinha bom senso e era organizado, sempre usando o bom senso. Era simples, honesto e sabia convencer por si só; determinado, mas humilde e sabia ceder, se fosse preciso. Mas o bom senso era a marca do seu caráter. Sabia renunciar, quando havia necessidade, porém não com facilidade, pois antes de propor algo, o fazia convicto. Era bom, afável, carismático.Tinha todas as qualidades de um Verdadeiro Príncipe!

LUIZ OTÁVIO – O TROVADOR

O “Trovador” era assim carinhosamente chamado, desde o seu início, antes mesmo do seu ingresso no Mundo definitivo da trova.Entre os seus feitos, foi o introdutor no Brasil dos Jogos Florais, do Concurso Nacional de Trovas, em parceria com J. G. de Araújo Jorge; é aclamado Príncipe dos Trovadores, no Congresso dos Trovadores e Violeiros, realizado em São Paulo, entre 04 e 07 de setembro de 1960. Foi o Fundador e presidente perpétuo da União Brasileira de Trovadores – UBT.

Foi homenageado pela municipalidade de Magé, através da Lei nº 211, de 06 de julho de 1977, de autoria de Francisco Antonio de Oliveira, que nomeou uma das ruas do Bairro Tênis Clube – Rua Trovador Luiz Otávio. Legado o acervo de suas obras:

Saudade, Muita Saudade! (poemas, 1946);

Um coração em Ternura (poemas, 1947);

Trovas (1954);

O Meu Sonho Encantador (poemas);

Cantigas Para Esquecer (poemas);

Meus Irmãos Trovadores, 1956 (coletânea de 2000 trovas

selecionadas de autores diversos, marco inicial da UBT);

Cantiga de Muito Longe (poemas) 1961;

Cantiga dos Sonhos Perdidos, Coleção Trovas e Trovadores,

Editora Freitas Bastos;

Trovas ao Chegar do Outono 1965;

Decálogo de Metrificação - 1975.

Luiz Otávio foi o campo fecundado, onde a semente da trova encontrou um chão propício para deitar raízes, expandindo sua opulência em todo território nacional.

O ritmo da trova que embalava seus ouvidos ganhou melodia ao som do violão de Glauco Vianna.Daí tornou-se também cantor e compositor de letras e músicas de canções, sambas, fox-trotes e valsas. Mais tarde pertenceu ao “Bando dos Tangarás”, seu colega de faculdade e de noitadas de seresta. Assim continuou cantando, e compondo até o final dos seus dias, e certamente, deixou sua contribuição ao mundo da Trova, da Literatura e da Música Brasileira. Faleceu em 31 de Janeiro de 1977, em Santos, SP.

LUIZ OTÁVIO – EM MEMÓRIA, DIA DO TROVADOR.

Foi fixado por leis estaduais e municipais, o dia 18 de julho de 1916, consagrado aos trovadores do Brasil, em homenagem ao Trovador Luiz Otávio, o Dr. Gilson de Castro, que faleceu em 31 de janeiro de 1977, incansável poeta-trovador, pelo movimento literário da Trova.

Nas Delegacias espalhadas pelas UBTs, por centenas de municípios em quase todo o Brasil, reuniões, palestras e almoços festivos são realizados para a propagação dos feitos dedicados ao Dia do Trovador.

Deixo para vosso deleite, exemplares do seu estro, o entusiasmo artístico inesquecível de Luiz Otávio, nas belíssimas Trovas:

Toda noite ao me deitar

(por certo você reprova),

eu me esqueço de rezar

e fico fazendo trova.

Às vezes o mar bravio,

nos dá lição engenhosa:

Afunda um grande navio,

deixa boiar uma rosa

Meus sentimentos diversos

prendo em poemas tão pequenos.

Quem na vida deixa versos,

parece que morre menos...”.

Concluo citando a Trova de Louvação de José Levy de Oliveira,

Luiz Otávio é a prova

de que é capaz a poesia,

de resistir pela trova:

Luiz Otaviomania...

Piabetá, 21 de outubro de 2008.

(Palestra proferida no Programa “Primavera de Poesias” em dupla com o poeta Geraldo Mattos, em nome da AML, realizada em 25 de outubro de 2008, no auditório da Escola Profª Alcília Brandão Teixeira, em Piabetá-Magé RJ).

Iraí Verdan
Enviado por Iraí Verdan em 07/06/2009
Reeditado em 26/08/2010
Código do texto: T1636970