CONFIDÊNCIA, NÃO DO ITABIRANO
Alguns anos vivi em Lorena.
Felizmente, não nasci em Lorena.
É o que me consola. Pois o entulho, o lixo!
Noventa por cento de lixo nas calçadas.
Cinquenta por cento de lixo nas almas.
E aquele calçamento que me estragou o carro!
A dificuldade de respirar, que me obsta o pensar,
vem de Lorena, de suas ruas sujas e escuras.
E esse hábito de sofrer, que não me larga o pé
é amarga herança lorenense.
Mas de Lorena trouxe lembranças que me aprazo em mostrar:
este livro da Olga de Sá, que resgata os escritores valeparaibanos;
esta estante, repleta de vida, onde repousam as almas de Péricles Eugênio, de Lobato,
de Maria Luiza R. P. Baptista e dos Machados da vida...;
a boa recordação dos mestres da FATEA; dos amigos de curso; dos colegas da cidade.
Não tive ouro, nem prata, nem casa.
Paguei caros aluguéis, suportando o rigor da Imobiliária Bastos.
Mas Lorena é mais que uma fotografia na parede...
De lá trouxe este canudo de papel e um coração maior...
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Lorena - SP, 2002