Os Sonhos de Maria

Este texto me foi encomendado como parte de um projeto maior de homenagem de uma filha a sua mãe no dia de seu casamento.

Para preservar a identidade dessa família e por conter um resumo biográfico os nomes reais foram substituídos por pseudônimos.

INTRODUÇÃO

Quero falar de sonhos...

A vida é feita de sonhos e os sonhos são transformados em emoções.

Viver é mesclar pensamentos e sentimentos numa infinita dança em busca da harmonia perfeita: Desejos e Ações, Realizações e Alegrias, Recomeço e Esperança... Quantas vezes recomeçamos? A cada dia... Quantas vezes sonhamos? Cada um de nós sabe disso. Cada um de nós tem seus sonhos. Hoje realizo um dos meus. A alegria de hoje representa o inicio de uma nova etapa em minha vida. Um momento esperado, sonhado... E é nessa alegria que quero compartilhar com vocês a lembrança de alguém que sempre esteve presente nos meus sonhos. Ela sonhou comigo e para mim e principalmente sempre teve coragem e força para recomeçar mantendo-se integra, digna e também por isso sendo para mim e meus irmãos um exemplo e motivo de admiração: minha mãe Maria de Fátima.

Mas o que dizer sobre minha mãe? Como expressar com palavras minha gratidão, respeito e admiração? Talvez devido à emoção me falte às palavras certas para dizer o que sinto, mas sentimentos não devem ser expressos somente em palavras, mas em gestos e atitudes. Esse gesto não é apenas uma homenagem, é também uma demonstração de AMOR a minha mãe Maria de Fátima, uma mulher que também sonhou...

OS SONHOS DE MARIA - Resumo biográfico

Foi concebida com amor e quando nasceu seus pais Lorena e Miguel tinham muitos planos para ela. É natural dos pais fazerem planos... Para eles o principal era de que seus filhos fossem felizes. Maria inserida nesse carinho familiar com seus outros seis irmãos (quatro meninos e 2 meninas) teve uma infância simples e feliz.

O tempo passa rápido e quando se vê já somos grandes... Também foi assim com Maria e sua infância passou rápido e logo já era adolescente. A adolescência época de descobrir e redescobrir o mundo. Imaginem o que foi para ela essa fase... Quantos sonhos e oportunidades não lhe acenavam no horizonte? Ela até então uma menina tímida e retraída que não conhecia quase nada do mundo além da escola, da igreja e do parque percebeu que tinha muito que descobrir. Nisso não tardou em descobrir o desejo, em descobrir o amor e como conseqüência para sua inexperiência descobriu que seria mãe. Qual mulher não sonha ser mãe? Poucas. Para Maria a gravidez veio precoce, afinal era uma menina de 15 anos quando engravidou e tinha 16 quando se casou. Casou-se com o primeiro namorado fechando assim uma porta para uma vida de oportunidades, mas abrindo uma janela para a experiência da maternidade. Esse era um recomeço. Uma nova etapa que se agigantava diante de seus sonhos de menina.

Quantas duvidas e medos não surgiram para a nova mãe? Quantos desafios não teve que vencer para ser a melhor mãe possível para seus filhos? Quantas mudanças em sua vida dos 14 aos 16 anos: namoro, gravidez, casamento, filho.

O casamento foi abençoado por Deus como sonhavam todas as mulheres de sua época (e ainda sonham as atuais); o casamento eterno; o “felizes para sempre...” Para sempre... Uma palavra e conceito tão vagos. Um desafio... Uma vulnerabilidade... Infelizmente nem tudo acontece como o planejado. Ao menos não nos seus planos. Seu marido além de não se firmar nos empregos também se mostrava ausente passando curtos, mas freqüentes períodos longe de casa ocasiões estas em que Maria ia consolar-se no colo da mãe, Dona Lorena, sempre presente e disposta a auxiliar e aconselhar a filha.

A fragilidade de sua relação com o marido transformou o “para sempre” em pouco mais de 5 anos. Descobriu que era traída. O marido tinha outra família. Separou-se e voltou definitivamente para a casa dos pais levando com ela os filhos que nessa época já eram quatro: Lucio, Gisela, Julio e Rosane.

No primeiro ano após separar-se Maria contava com a ajuda da mãe, mas Dona Lorena logo foi juntar-se ao Criador após uma fatalidade.

Estava diante de um recomeço e novo desafio. Maria, uma mulher separada, que jamais tinha trabalhado, tendo que suprir as necessidades dos filhos.

Teve pessoas que disseram para ela desistir e sequer tentar. Teve as que não acreditaram nela e que diziam que sua luta era vã e inglória, pois não daria conta de ser uma boa mãe. Teve quem dissesse que o melhor a fazer era dar os filhos embora, etc. Sim, infelizmente teve. Mas Maria fazia-se surda a esses conselhos, pois intimamente sabia que Deus não dá ao homem fardo maior do que ele pode suportar. Claro que ela tinha medos, sabia que era um desafio e que essa luta teriam que travar unidos e acreditando que o amor familiar pode operar milagres.

Porém uma guerra não se vence sozinho e ela foi amparada algumas vezes por verdadeiros anjos: amigos, patroas (trabalhou por quatro anos como doméstica) e familiares, em especial suas irmãs Marlene e a saudosa Cristina.

Tendo que trabalhar para garantir o próprio sustento e o de sua prole a jovem Maria tornou-se uma lutadora, porém ainda expressava a fragilidade de seus tempos de menina principalmente pelos dilemas que enfrentava e que pareciam afastá-la de seus sonhos: Como conciliar as exigências profissionais com as tarefas domésticas? Como estar presente na vida dos filhos se precisava passar o dia fora? Como garantir-lhes a educação se o pouco que ganhava mal dava para custear o sustento da casa? Como ter paz para trabalhar sabendo que suas crianças estavam desprotegidas em casa e vulneráveis até mesmo a uma vizinhança violenta. Tantos eram os dilemas... Certamente a vida que sonhava era menos dura que a real.

Felizmente a jovem mãe jamais desistiu e em 1990 foi recompensada por seus esforços. Ingressou em uma grande empresa e viu nisso a chance de firmar-se profissionalmente. Por ser trabalho noturno Maria conseguiu conciliar mais facilmente a dupla jornada e estar ainda mais presente na vida dos filhos; mesmo tendo que descansar parte do dia para dar conta do serviço à noite. Estabeleceu para a vida profissional a durabilidade que não conseguiu com o casamento. Uma união que já dura 19 anos.

Em sua vida Maria foi muitas mulheres: foi sonhadora, lutadora, amiga, mãe, educadora... Educou seus filhos não somente com palavras, mas com seu exemplo. Teve e tem o prazer de realizar muitos sonhos especialmente ver a felicidade dos filhos e vê-los se tornarem homens de bem, contrariando muitas expectativas opostas. Realizou o sonho da casa própria e também o de acompanhar o crescimento dos netos, dádiva esta que sua própria mãe não pode receber. Enfim muitos são os sonhos e projetos para o futuro... Hoje ela casa uma filha, amanhã talvez um neto.

Muitos ainda são os desafios mas eles certamente serão vencidos por ser ela uma mulher com força para lutar e que aprendeu com a vida a transformar Final em Novo Começo, Desamparo em União e Desafio em Motivação.

CONCLUSÃO

Essa é uma historia que muito admiro e me orgulho. É a história de Maria de Fátima, minha mãe uma mulher que sempre sonhou, acreditou e recomeçou.

Poderia ser a história de muitas outras Marias, para mim essa é especial por ser parte de minha historia. Muito do que sou hoje devo a esse exemplo. Essa vida é um exemplo que quero transmitir aos meus filhos.

Inúmeras vezes minha mãe poderia ter desistido ou seguido o caminho mais fácil. Quem a condenaria? Mas minha mãe não desistiu. Seguiu sua luta atravessando adversidades mas sem desviar-se do caminho reto.

Com seu exemplo transmitiu para nós seus filhos uma mensagem de fé: a de que vale a pena sonhar, vale a pena fazer o que é certo; vale a pena lutar e acreditar.

Por toda sua dedicação quero agradecer e deixar aqui registrado o meu amor.

Eli Coelho
Enviado por Eli Coelho em 26/05/2009
Código do texto: T1615683
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