LENITA
Entre os nomes (ou epítetos) femininos tão incomuns quanto belos, Lenita configura-se em minha memória pelo imaginário literário gravado em minhas lembranças. Lenita, personagem de A Carne, de Júlio Ribeiro.
A ela vem juntar-se, pelo mesmo distante e invisível caminho, outra Lenita, que a literatura revela. Seis letras, três sílabas intercaladas de vogais abertas para um nome e sua infinitude, para a poesia e sua autora. E não há como dela saber, a não ser lendo-lhe a obra, que é a síntese biográfica da escritora, cuja identidade se preserva simplesmente no prenome. Talvez seja o que basta a ela e ao leitor. O melhor meio para se conhecer um escritor é percorrer-lhe o caminho inverso; isto é, da obra ao autor. Este a gente descobre nas entrelinhas a cada texto onde ele se deixa escapar. As biografias e a fortuna crítica tendem a influenciar o leitor, que vai ao texto movido já pela opinião do outro. Resulta-lhe daí, quase sempre, ausência de análise própria.
Lenita se mostra através. Não tem o perfil naturalista traçado por Júlio Ribeiro. Vem em si mesma, vestida de poesia. Poesia que a define em cada detalhe do pano em que borda versos em relevo. Quando o tecido cede, nele desliza a prosa igualmente ornamentada. O conto e a crônica realçam. É assim em Entrada Triunfal em que a “louca” e a pomba dividem um cenário em fleches rápidos na imaginação do leitor.
Na poesia,
“ Sufocada...
Ansiosa pelo toque do telefone...”
Vai ao êxtase e proclama:
“Te amo com um amor quase de Deus”.
( in A Luta entre o Bem e o Mal).
Poeta tem esses arroubos, que a licença permite. Quando não, ele insiste e a poesia vence.
Tudo como num ENIGMA, em que “as flores reclamam a sua essência” porque “mesmo que amanheça chovendo, o sol aparece dentro das flores, com sua presença...”.
Lenita está aqui, invisível e tão presente em verso e prosa em “Procura”, “Silêncio”, “Tomada de Decisão”, “Círculo Vicioso”, “Facho de Luz”, sem deixar de lado “O Destino Quis Assim” e outros lampejos poéticos que o anonimato já deixou de ocultar. O Recanto rebrilha em letras. Letras de Lenita, que vêm não da personagem de A Carne, mas desta outra, mais interessante por não ser uma ficção.
Brasília, 23 de maio de 2009
H.
Entre os nomes (ou epítetos) femininos tão incomuns quanto belos, Lenita configura-se em minha memória pelo imaginário literário gravado em minhas lembranças. Lenita, personagem de A Carne, de Júlio Ribeiro.
A ela vem juntar-se, pelo mesmo distante e invisível caminho, outra Lenita, que a literatura revela. Seis letras, três sílabas intercaladas de vogais abertas para um nome e sua infinitude, para a poesia e sua autora. E não há como dela saber, a não ser lendo-lhe a obra, que é a síntese biográfica da escritora, cuja identidade se preserva simplesmente no prenome. Talvez seja o que basta a ela e ao leitor. O melhor meio para se conhecer um escritor é percorrer-lhe o caminho inverso; isto é, da obra ao autor. Este a gente descobre nas entrelinhas a cada texto onde ele se deixa escapar. As biografias e a fortuna crítica tendem a influenciar o leitor, que vai ao texto movido já pela opinião do outro. Resulta-lhe daí, quase sempre, ausência de análise própria.
Lenita se mostra através. Não tem o perfil naturalista traçado por Júlio Ribeiro. Vem em si mesma, vestida de poesia. Poesia que a define em cada detalhe do pano em que borda versos em relevo. Quando o tecido cede, nele desliza a prosa igualmente ornamentada. O conto e a crônica realçam. É assim em Entrada Triunfal em que a “louca” e a pomba dividem um cenário em fleches rápidos na imaginação do leitor.
Na poesia,
“ Sufocada...
Ansiosa pelo toque do telefone...”
Vai ao êxtase e proclama:
“Te amo com um amor quase de Deus”.
( in A Luta entre o Bem e o Mal).
Poeta tem esses arroubos, que a licença permite. Quando não, ele insiste e a poesia vence.
Tudo como num ENIGMA, em que “as flores reclamam a sua essência” porque “mesmo que amanheça chovendo, o sol aparece dentro das flores, com sua presença...”.
Lenita está aqui, invisível e tão presente em verso e prosa em “Procura”, “Silêncio”, “Tomada de Decisão”, “Círculo Vicioso”, “Facho de Luz”, sem deixar de lado “O Destino Quis Assim” e outros lampejos poéticos que o anonimato já deixou de ocultar. O Recanto rebrilha em letras. Letras de Lenita, que vêm não da personagem de A Carne, mas desta outra, mais interessante por não ser uma ficção.
Brasília, 23 de maio de 2009
H.