Antônio Carlos Secchin (ensaio em dueto)
NOITE NA TAVERNA
(Antônio Carlos Secchin) – (Academia Brasileira de Letras)
1
Senta uma puta perto da taça
Arde uma tocha acima da mesa
Salta uma estrofe em cima da coxa
Nasce um poema a toque de caixa
Fora, uma virgem dorme na lousa
Ri-se o poeta em torno da brasa
A mão do poeta passeia na moça
O seio da moça é uma pétala gasta
(Antônio Carlos Secchin)
A taça transpassa a moça no vinho
No quente da tocha, se vira na mesa
Na letra da gota encaixa o caminho
Escorre da mesa poesia inconfessa
Deixa que a virgem descanse impune
Na beira da brasa que desce do meio
No ponto da fala em que o verso une
Na mão do poeta que brinca no seio
(Ana Átman)
2
Crepúsculo, vinho, hemorragia:
vai vermelha a voz da poesia
A vida só vale o intervalo
entre início e meio de um cigarro
Traga, taverneira, algo bem ríspido,
afogue em rum qualquer sonho nosso
Brindemos ao que escorre o futuro:
metáforas, sífilis e ossos
(Antônio Carlos Secchin)
A tarde que desce em plena sangria
Retesa no peito o desejo escasso
É flama que impele à outra poesia
O que vale da vida é o próximo passo
Visão quase oculta e aflita da alma
A mão quebra a taça acima do muro
O foco do olhar desarma e deságua
No ranger dos dentes engole o futuro
(Ana Átman)
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(Um pouco de minha ousadia, com respeito e desejo de que um dia, quem sabe, eu possa estar à altura. Assim homenageio o poeta)