Um fio condutor de mão dupla
Uma homenagem a uma amiga, leitora, e, a cada dia, grande escritora.
Ser poeta é ter o “olhar” nas mãos. Talvez soe estranho afirmar isso em um mundo cada vez mais imagético como o nosso. Não privilegio a imagem, mas preciso entendê-la para descrever o que letras distantes me dizem. Um grande desafio para essa “luta vã contra as palavras”. Enfim, escrever é um fio condutor de mão dupla entre o leitor e o escritor.
Por isso, olhei na internet o que significava a expressão utilizada pelo blog que acompanho. As minhas mãos seguiram o teclado, como agora, em busca do duro fazer da prosa “poésis”. Ainda, procurei o significado do nome Vanessa com o objetivo de completar essa enigmática homenagem.
Descobri que o “Fio de Ariadne” tem o seu intertexto com a tradição mitológica e que a autora é uma exímia mariposa. O bordejar de suas palavras nos fascinam a cada acesso. Isso me fez compreender o poder do particípio passado do verbo tecer em latim. Um texto torna-se poético diante da visão do leitor que o mimetiza em seu próprio coração.
Aí observamos que a distância entre criador e receptor não existe mais. É como se cada palavra fosse lida pelas membranas de nossas células espirituais. O passo seguinte, então, é a contaminação por esse único vírus benéfico. O ácido dissóxido companheiro resgata de nós aquele pacto com a nossa leitura.
Nesse momento, não sabemos mais o quanto esse fio nos enredou. E tudo acontece como o surgimento de um verdadeiro amor. Pois não podemos explicar o momento em que os olhares se cruzam por, às vezes, eternos cinco minutos.
Se agora sou escritor é porque há momentos atrás fui leitor. No entanto, li boa obra, ou reflexão, que dialogou com o que acontece de mais verdadeiro na vida. Ser escritor é mimetizar a realidade por meio de invenções verdadeiras. Também renunciamos a nós mesmos em prol do mundo do leitor.
Vanessa se entrega em seus textos. Ela tece cada linha como pista para novos olhares e nos tira do grande labirinto virtual. E, embora seja minha leitora assídua, consegue me conduzir a caminhos de reflexão sobre os meus fios textuais. Isso é escrever. Olho com muito bom gosto esse tipo de trabalho, porque sei que a crítica e a humildade não faltam aos sábios.
Mas a maior sabedoria mesmo está no “olhar” do coração. Os bons profissionais são aqueles que amam o que fazem. Por isso, nem precisam demonstrar o que sabem. Todo escritor procura fazer o que escrevo. Vivem a liberdade de seus sentimentos na palavras surgidas a partir do invisível. As mãos, por sua vez, auxiliam na tradução poética da prosa em que vivemos. Seguem os fios de uma rede muito maior da que encontramos na mídia utilizada por nós.