Mãe - Verso e Reverso

Seguindo o conselho de uma escritora que orienta como se iniciar um texto, faço como ela – começo pela verdade.

Não sou mãe e nem sei se serei um dia, mas ouço em mim os sussurros, os lamentos, as alegrias e bem-aventuranças das várias mães que estão ao meu redor. São Laras, Sayonaras, Catharinas, Rafaellas, Jaciremas e tantas outras graças e particularmente a que me gerou: Maria das Graças.

Do latim mater: mulher que deu à luz um ou mais filhos. “Do rio de sangue que corre nas nossas entranhas que dá origem à vida, como o líquido sagrado dos rios e mares, as águas que correm nas entranhas da grande mãe”. A vida já começa a ser gerada com o brilho do olhar da mulher que anseia pela gravidez, já fica com cara de mãe. Por vezes começa a ser gerada com o olhar tristonho e medroso da mulher que não planejara e muito menos desejara uma criança naquele momento ou em nenhum.

Creio que o ser mãe começa pelo prazer... depois vem dor, depois prazer, depois dor e o ciclo se eterniza na inconstância de um ou de outro. Nem sempre o parceiro escolhido será o melhor pai e não raras vezes o pai deixa de ser pai quando não é mais marido e companheiro. E lá vem dor de novo.

A dor de um parto não será maior que a dor de uma mãe que se vê obrigada a matar o filho em legítima defesa ou da mãe que gera e aguarda pacientemente o nascimento do filho, mas lhe é tirado o direito de dá-lo à luz e desesperadamente o embala na mortalha do “a-deus”.

Dar à luz , entregar à vida, dar ao mundo. Oferenda corajosa ao se cortar o vínculo umbilical, o provimento passa a ser externo. Todavia a mãe quase sempre amplia ou até perpetua o período de proteção, cuidado, provimento. Num excesso de zelo se esquece que a orientação deveria ser para a autonomia e não para a dependência. Não raras vezes se abstem do seu próprio cuidado, anulando suas vontades e capacidades.

Querería falar sobre todas as mães que rondam meus ouvidos e sentidos:

da mãe que é saudade na sua presença ausente;

da mãe que na intenção de fazer o bem faz o contrário;

da mãe que na rudeza da vida não aprendeu acarinhar;

da mãe que sem manual de instrução apanha da vida;

da mãe que conseguiu estabelecer relações de amizade com a(s) cria(s);

da mãe que ganha presente mas não ganha amor;

da mãe que enfrenta humilhações e constrangimentos para visitar o filho na cadeia;

da mãe que sepulta o filho contrariando a ordem natural da vida;

da mãe que quando se depara com a velhice ou a doença hospedadas em si, aceita resignadamente a mudança de papéis: ser cuidada e protegida como cuidou e protegeu outrora.

Lígia Martins

07/05/2009

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 12/05/2009
Código do texto: T1589588