São Tomé das letras

A tarde começava a findar.

A bela senhora negra de cabelos hasta fari, cantava com a voz suave, reags falando de paz.

Ao meu lado um jovem balançava um bebe no colo, enquanto a mãe dançava mansamente a sua frente.

No alto da pirâmide várias pessoas sentadas, observando o fim de tarde.

O cheiro acre de canabis pairava no ar.

Tomei mais um gole de vinho. Olhei em volta...

Velhos ripies vendiam artesanatos de fabricação própria.

O sol começou a se despedir tal qual um grande pai saindo para buscar sustento dos seus, desaparecendo mansamente no horizonte.

Daquele monte, a visão era inebriante, as pessoas começaram a aplaudir, algumas ate choraram.de tanta emoção.

Aplaudir a natureza, aplaudir o sol, aplaudir a vida.

A noite caia com suas sombras e seus mistérios, era empolgante estar vivo naquele momento sublime.

A lua apareceu maravilhosamente como se fosse uma linda mãe a ninar as pequenas estrelas do seu berçário infinito.

Fui para uma rocha um pouco separada, precisava ficar só por um instante.

Olhei para escuridão, o infinito da escuridão que pairava sobre aquelas montanhas Respirei o ar frio da noite, fiz uma pequena prece e me retirei, sai tal qual um sacerdote sai da presença de um ser divino.

Desci o monte, andei pelas ruas estreitas de pedras, as casas, na maioria também de pedras davam um ar especial aquele lugar.

A praça com sua igreja amarela e ao lado um cemitério, com bares e lojas em torno, formavam o centro da bela cidade.

A igreja lotada se destoava do som de rock que vinha do velho bar.

Um policial pediu para baixar o som, enquanto serpenteava uma procissão, o sagrado e o profano juntos se respeitando.

Na frente do bar os derivados começavam a tocar um blues, enquanto nas ruas as pessoas iam e vinham e os loucos balançavam suas cabeças ritmicamente..

O poeta uma vez falou que o banheiro é o templo dos bêbados, e para chegar ao meu templo passei por baixo do velho balcão, o bar, uma antiga construção de piso de madeira surrada, adentrei um cômodo nos fundos, não pude resistir a um leve sorriso ao ver pendurado na parede um desbotado quadro do ditador Garrastazu Médici.

Será que alguém aqui sabe quem ele foi? Deixa pra lá... Pensei.

Durante a noite vários artistas passaram pelo bar, sentavam na calçada tocavam um violão e cantavam depois suas mulheres distribuíam CDs-estamos apresentando nosso trabalho - diziam.

Nas gerais onde o horizonte é belo, o santo das letras é Tomé.

Uns tocam, outros pitam e alguns escrevem.

Mas todos são poetas, todos são artistas.

Paulo Siqueira Souza
Enviado por Paulo Siqueira Souza em 08/05/2009
Código do texto: T1582046
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