AOS GARIS (Dia do Trabalho)
AOS GARIS
Uma rua. Um silêncio preguiçoso, só.
Uma rua que desperta sobre flores úmidas de orvalho
Um milagre acontece. Estou viva para sentir o grito da manhã.
Ao longe, escuto, como canção, o barulho da vassoura,
os passos miúdos do gari., o primeiro visitante da rua.
E fico pensando em você: Não sei sua cor; sua idade, seus problemas.
Só sei que você é o varredor de restos da história do dia que passou.
Sei que você é aquele que varre o passado, abrindo alas para um novo dia.
Não sei se você já pensou, mas se as ruas falassem...
Porque, de um pouco dos nossos problemas,
sempre fica um pedacinho na rua,
numa lágrima que cai solitária ou num pedaço de papel
com um triste adeus.
Um grito de morte; uma freada que conduz à vida;
um velho chapéu mutilado pelo tempo...
Tudo isso são histórias do povo; histórias varridas,
pedaços de histórias; é a vida.
E quando o sol ilumina o dia,
tudo está limpo para os homens viverem outros momentos.
E a rotina continua, você limpando a rua.
A você, o nosso muito obrigado, o nosso reconhecimento.
Você, o estranho amigo das manhãs de nossa gente.
UM PRIMOR DA POETA GALEGA.
O vento varredor levou os retalhos de vida que caíram
hoje na rua, quem sabe quem foi?Passou e levou o passado e o
eco dos passos miúdos do gari.
Passou e apagou a memória do passeio,limpou de
lembranças as ruas ,para fundar um novo dia.
(Obrigada Poeta Galega,você enriqueceu o poema.)