MAIS QUE UM ÍDOLO

O Brasil é um país carente de ídolos. Na verdade, talvez não saibamos valorizar as pessoas e seus feitos. O fato é que nossos ídolos viram vilões muito rapidamente. O que precisamos entender é que qualquer personalidade, seja famosa ou não, é humana, e consequentemente falível, como qualquer um de nós.

Mas dentre os poucos ídolos que resistem ao poder do tempo e à memória extremamente fraca do brasileiro, um merece destaque muito especial, porque se fez mais que um ídolo. Ele sempre foi para muitos, inclusive para o escritor, um exemplo a ser seguido. Sua trajetória acabou tragicamente, é verdade. No entanto, não lembrarei do dia 1º de maio de 1994, quando certamente milhões de brasileiros ligavam a tv, esperando mais uma manhã de domingo alegre, com o tema da vitória ao fundo, depois de mais uma vitória de Ayrton Senna da Silva, o nosso grande Ayrton Senna do Brasil. Mas aquele dia reservou a passagem do campeão ao outro plano.

Não falarei do acidente, porque a vida de Senna foi muito mais do que aquele breve e doloroso momento. É muito melhor lembrar suas glórias dentro das pistas e seus feitos fora delas.

Senna sempre foi mais que um piloto de Fórmula 1. Por trás do exímio piloto, havia um grande coração. Ninguém sabia, mas Ayrton sempre manteve, em silêncio, grandes obras sociais. Eis aí, a primeira virtude que o caracterizou campeão: fazer o bem sem alarde. O instituto que leva seu nome, hoje tocado por sua irmã Viviane, só ficou conhecido do grande público após sua passagem. Hoje, o Instituto Ayrton Senna segue ajudando milhões de crianças do Brasil.

Falamos agora do piloto, afinal é impossível esquecer tanto talento.

Senna aliou três características, que mais tarde, o tornariam tricampeão do mundo: obstinação, talento e garra.

Além de conhecer profundamente seu carro, Senna era didático e certeiro, ao perceber e explicar aos mecânicos e engenheiros, as condições da pista e o que era preciso fazer para andar rápido. Assim, levou a modesta Toleman ao pódio em 1984, com um heróico terceiro lugar. A Toleman vivia então, seu único momento de glória na categoria.

Outra característica que encantava em Senna era a simpatia, que o fez mais que um excelente piloto, um fora de série, a frente de seu tempo. Se tivéssemos em outras personalidades o carisma de Senna, o Brasil certamente teria mais ídolos.

Cada entrevista mostrava que Senna ia para as corridas como quem corria atrás de uma prato de comida. Talvez ele imaginasse que seu alimento o esperava sempre ao final de cada GP, e que para conquistá- lo era preciso vencer.

Sem falar no espírito esportivo, evidenciado nos treinos de Donington Park, em 1993, quando Ayrton simplesmente abortou sua volta rápida ao vislumbrar à sua frente um fortíssimo acidente. Quem seria capaz de estacionar o carro para socorrer um adversário? Só Senna! Para ele, o ser humano vinha antes do piloto.

Há quem não goste de automobilismo e julgue se tratar de uma grande estupidez. Pode até ser. Mas o automobilismo mostrou ao mundo um grande exemplo de superação, objetivo, determinação e persistência.

Todas essas virtudes devem ser aplicadas na vida. Só assim conseguimos o que almejamos. Nunca acreditei no acaso. Na vida, tudo deve ser conquistado, com o suor do rosto. Para desfrutar do sucesso é preciso trilhar o difícil caminho do mérito, que, por mais longo e pedregoso que possa parecer, é plenamente feliz, pois somente através da luta o homem valoriza a vitória. Alguém duvida? Pergunte a qualquer atleta, qual é a sensação de ganhar por W.O.

Para finalizar essa singela homenagem, a corrida mais emocionante da história da Fórmula 1: Interlagos, 1991. Poleposicion, Senna mantém a ponta, mesmo sofrendo o feroz ataque de Nigle Manssel, que mais tarde viria a rodar sozinho com sua Willians. Há dez voltas do fim Senna perde a 4° marcha. Ricardo Patresi, então segundo colocado se aproxima. Agora são sete voltas e a única marcha que funciona na Maclaren é a sexta. Desespero. A vantagem de Senna despenca de 21 para 7 segundos. Galvão Bueno quase enfartou na cabine. Não sei até hoje como Ayrton levou aquele carro até o fim. O esforço era brutal. Naquele tempo, o câmbio era controlado manualmente. A força do motor empurrava o carro para fora a cada curva. Valente, Senna mantinha o carro em sexta marcha. Se assim não fosse, o abandono era certo. Uma volta. Senna passa. Patresi logo atrás. Mas depois de uma corrida perfeita, Senna clamou ao Pai que lhe desse a corrida de presente. Emoção. Essa foi a palavra que reinou na minha casa e na de tantos e tantos brasileiros quando Senna cruzou a linha de chegada. Os gritos tão incrédulos, quanto enlouquecidos, ecoavam por baixo do capacete amarelo, fazendo- se ouvir ao mundo. Não sei de que jeito, mas AYRTON SENNA DO BRASIL, ganhava mais uma corrida. A corrida. Em casa, diante dos olhos emocionados de seu povo, ele fazia mais um domingo feliz para nós.

Deixo aqui, minha gratidão a quem nasceu com a semente da vitória no coração e a fez brotar com disciplina e dedicação.

AYRTON SENNA DA SILVA: O MELHOR PILOTO DE FÓRMULA 1 DE TODOS OS TEMPOS!!

Meu maior ídolo no esporte, ao lado do mestre Telê Santana.

Obrigado por tudo campeão! Deus te abençoe sempre!

Ayrton é exemplo para a vida!

NOTA: O GP Brasil de 1991 encontra- se disponível, em seus melhores momentos, no Youtube. Aos amantes dos bons tempos da Fórmula 1, vale muito a pena. Também no Youtube a entrevista concedida depois da corrida.

Marcello Santos
Enviado por Marcello Santos em 01/05/2009
Reeditado em 05/05/2009
Código do texto: T1570689
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