À minha mãe...

Hoje cedo, liguei para a minha mãe, como eu faço quase sempre. Lá estava ela, no jardim. Feliz e animada do alto dos seus oitenta e quatro anos, me disse que havia levantado cedo, tomado café e ido limpar os canteiros, replantar algumas mudas de flores e regar as suas plantas. Fiquei muito feliz ao sentir em sua voz, a disposição e a vitalidade. Após passar uma vida de lutas e dificuldades, auxiliando meu pai a nos criar, educar e dar o melhor que ela pode, nada mais justo poder se dedicar às linhas, às lãs, ao jardim e às flores. Hoje, é nos bordados, no tricô e no crochê que ela passa as tardes ensolaradas, sentada ao lado de um jardim de inverno. É a recompensa de uma mulher guerreira que sempre lutou bravamente por seus filhos e sua família. Eu recordo dos tempos em que, para nos dar um estudo digno, ela se dispôs a lavar trouxas de roupa das estudantes internas no mesmo colégio onde ela queria que nós, seus filhos, estudássemos. E, assim foi. Com seus “lavados” de roupa, custeou o ensino primário de seus afortunados (no mais amplo sentido da palavra) filhos. Mais tarde, quando já não existia internato de meninas e as roupas para lavar sumiram, ela se dedicou à feitura de comida e assados para fora. Eram pães, cucas, galinhas e patos assados diariamente, para que com o dinheiro arrecadado, continuássemos nos preparando para um futuro melhor. Eu, ainda hoje, recordo com emoção e orgulho, de um Natal muito especial. Aquele foi, sem dúvidas, o mais bonito Natal da minha vida. Eu, como filho mais velho e único sabedor, até então, que o nosso verdadeiro Papai Noel estava ali, em frente ao forno em sua lida diária, fui testemunha de algo grandioso. Eram dezoito horas da véspera de Natal, quando ela entregou o último pato assado a seu dono. Em poucos minutos, ela se arrumou e me pegou pela mão. Saímos a passos largos em direção ao centro da pequena cidade, onde ela sabia que uma loja de brinquedos ainda estava com suas portas abertas. E, em pleno início da noite em que todas as crianças já estavam esperando pelo seu presente de Natal, ela fez o milagre. Com a minha pequena e orgulhosa ajuda, escolheu o que cada um de nós, seus filhos, gostaria de ganhar do Papai Noel. Horas mais tarde, ela viu com orgulho, os quatro mais belos sorrisos do seu mundo. São fatos como este, que a tornam a melhor mãe deste mundo! Hoje, felizes daquelas flores do seu jardim, que podem sentir o carinho daquelas mãos trabalhadoras e bondosas. Tenho certeza que aquele é o jardim mais bonito da vizinhança! Existe carinho e amor, além de terra, naqueles canteiros.

01/05/2009

16h 11min

Jefferson Dieckmann
Enviado por Jefferson Dieckmann em 01/05/2009
Reeditado em 04/03/2018
Código do texto: T1570161
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