À MINHA MÃE INES

N I Z O C A

Nadir Silveira Dias

In memoriam

Fraterna, arreliada,

Lavoureira do Piratini,

Industriária do Rio Grande,

Comunicativa, sonhadora,

Este apelido ganhaste na

Década de vinte, já moça.

Quase viste o século nascer

E não quiseste esperar

O terceiro milênio

Para saudá-lo com a tua alegria.

Te fostes antes,

Sem teres aprendido

A ver as horas, conhecer dinheiro

E essas coisas todas

Que o ser citadino precisa (?)

Aprender para a sua

Maior desenvoltura.

Estudado, mas atrapalhado

Com horários, buzinas,

Compromissos, poluentes,

Engavetamentos, tráfego,

Poluição e os quase eternos

Plásticos e derivados

Que o homem que lê as horas

E conhece dinheiro, cria, e

Depois joga fora, na própria casa.

Nada disso mais quiseste,

Quase aos noventa e dois anos.

Tinhas outras coisas por fazer

Readquirir a juventude,

Te comunicar, rever amigos,

Parentes, te arreliar,

Mimosamente, brejeirar.

És tu, Nizoca,

Lindona ... querida,

Genitora extremada,

Quase integral,

Comunicativa, canteira,

Cantadeira ...minha mãe!

Piratini, 14.10.1903 - Canoas, 10.08.1995.

Extraído do livro Rastros do Sentir, Poemas Reunidos, edição do autor impressa pela Editora Alcance, Porto Alegre, 1997, pp. 77-78.

Escritor e Poeta - nadirsdias@yahoo.com.br

Nadir Silveira Dias
Enviado por Nadir Silveira Dias em 12/05/2006
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