COISAS DE MÃE (EM MEMÓRIA)
Naqueles dias ficávamos alí, no meio da tarde, aninhados no colo materno, suas mãos fazendo cafuné, transmitindo bênçãos divinas, gestos de amor, doando seu coração.
E era o bastante. Não precisávamos de mais nada. Só mais colo, e ela se desdobrava em generosa atenção mediante a demanda por um pedacinho daquele ninho de amor.
Acontecia sempre à tarde, quando ela se refugiava naquele canto sossegado do quintal, gamela cheia de laranjas que ia descascando e entregando a cada um de nós. Ela era a última a saborear as laranjas. Éramos egoístas do seu carinho.
Todos os dias este cenário de amor e felicidade inenarráveis, só percebidos tão preciosos depois, rememorados pela lembrança e pela saudade. Às vezes, lágrimas banham os olhos quando atualizo este momento de emoção e agradecimento pela ventura vivida naqueles dias.
Sim, aqueles dias eram assim. Simples, naturais, tão espontâneos, que passavam despercebidos. Eles aconteciam, nós simplesmente os vivíamos. Inocentemente, seguros, em paz.
Seu ser nos unia, elo mais forte da nossa corrente, o nó dos nossos laços. Se nomes lhe fossem dados, seriam carinho, proteção, vigília, doação, ventura, felicidade, porto seguro. Coisas de mãe.
10/05/06