Homenagem a uma acrisolada amiga

Prólogo:

O nome de minha amiga? Não digo! Não direi! Negarei sempre em nome da discrição, da ética e do respeito ao ser humano maravilhoso que ela sempre foi, é, e continuará sendo. Eu só fui aonde ela me deixou ir!

Mutuamente exploramo-nos! Nossos atos, inconsequentes ou não, aconteceram de forma sublime e espontânea. Não houve, dessa forma, erros ou pecados a sererm perdoados.

Por índole sou bronco, às vezes, um tosco que tenta se burilar a custa de muita dor e sacrifício pessoal, mas sei valorizar uma amiga de verdade. Claro que por ser homem custei a acreditar ser possível existir apenas amizade entre seres de sexos opostos.

Imagino e entendo que amiga é aquela com quem a gente divide uma porção de coisas: alguns segredos, as alegrias, a tristeza causada pela briga com a esposa, amante, outra amiga ou pessoa de extrema confiança, e até a zanga por ter ouvido um não meio esconso e sem jeito, de um ou do outro, por uma investida inoportuna.

Amiga é isso: um ombro quando você precisa de consolo, de um carinho, um colo quando você precisa desabafar e uma enorme paciência para aturar paixões desabridas e inconsequências desaforadas na tentativa quase sempre inútil de quebrar paradigmas ou refrões arraigados no espírito conservador dos antagônicos recalcitrantes.

Amiga é quem diz algumas palavras duras quando você esta precisando ouvir ou quem fica ao seu lado, em silêncio, quando esta triste, mas não quer falar nada com receio de ferir brios e/ou costumes familiares, religiosos e sociais.

Amiga também é quem dá uns toques, à guisa de aviso, quando você começa a fazer bobagens, sendo inconsequente e ao mesmo tempo sabe ser confidente, palpiteira e de quebra resolve quase todos os seus galhos (pequenos problemas, conflitos).

A verdadeira amiga é aquela que não dá ouvidos quando falam mal de você e até defende o indefensável por acreditar na solidez do caráter do seu amigo. Essa amiga sólida, forjada no cadinho da esperança, sempre cultua, igual ao autodidata intimorato, as virtudes: fé, caridade e esperança.

Igual a todo ser humano, essa amiga poderá errar, mas nunca deverá deixar de ser perdoada porque o estado premente de necessidade assemelha-se ao furto famélico, isto é, quando ocorrem roubos ou saques famélicos, não há crime, por ausência de antijuridicidade material. A lei brasileira é clara e cristalina sobre isso.

Nosso Código Penal diz que: "Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se" (art. 24, caput). Vou mais além: o estado de necessidade justifica até a ilicitude do cometimento do crime contra a vida.

Defendo com unhas e dentes a frase: Matar se preciso for... Morrer nunca! Ora, se a própria lei protege um assassino que prove seu estado de necessidade... quem sou eu para condenar o meu semelhante ao cometer erros e/ou pecados veniais?

Uma amiga que se prostitui por estado de necessidade deverá ser perdoada? Sim! Podemos até parodiar os ensinamentos bíblicos que dizem: “Atire a primeira pedra aquele que não pecou...”. Sobre isso há uma composição dos poetas Daniel e Samuel que diz:

“Ninguém te condena mulher, não te condenarei. Levanta, prossiga com fé, eu já te perdoei. Eu vim pra as ovelhas perdidas e pra perdoar quem errou. Eu tenho amor e perdão pra qualquer pecador.”.

Uma amiga, meus amigos, essa coisa tão preciosa e rara, é pra ser mantida com seus erros, defeitos e virtudes. Que bom que tu minha amiga tenhas todas essas características, todas essas beatitudes e outras virtudes que, por infortúnio, eu não tive tempo de aquilatar.

De todo o coração eu te agradeço por ter te conhecido e contigo gozado as delícias da vida por um breve instante. A nossa primeira vez, nosso primeiro pecado venial, intimidade mais sublime, ocorreu em 17 de outubro de 2008. Lembras-te? Esta doce lembrança é minha melhor prova de cosideração e homenagem a uma acrisolada amiga.

Naquela ocasião fui estimulado a escrever o texto "Uma noite memorável". Escrevi meio febril, ansioso e eufórico:

"Sexta-Feira, 17 de outubro de 2008 – 20h47min.

Analu ligou dizendo que estava a caminho. Sua voz estava calma. Encontrava-se no interior do ônibus. Henrique não ficou alvoroçado, pelo contrário, estava também muito tranqüilo. Desejava que aquela noite fosse inesquecível. Sabia que seria uma noite memorável.

Seja qual for o ponto de partida, é sempre bom lembrar que não se deve fazer amor seguindo uma lista de gestos ou ações pré-definidas. A espontaneidade deve prevalecer. Uma relação sexual saudável, que provoque uma excitação intensa e em curva ascendente, demanda certo "derretimento", ou seja, um estado de entrega, que deve preceder o sexo.".

O último inefável contato que tive com esta amiga, já tantas vezes por mim homenageada, foi no dia 11 de fevereiro do ano em curso, no apartamento nº 11 (suite delirius), do Hotel Delirius, quando adentramos no recinto por volta das 14h10min e lá pernacemos em colóquio almejado por cerca de uma hora e vinte minutos.

Promessas e dívidas foram pagas, fecharam-se as cortinas do palco das ilusões e cada um seguiu o seu caminho em busca dos seus destinos desejados, inesperados, solitários, gratificantes ou não.

"Erros são, no final das contas, fundamentos da verdade. Se um homem não sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento saber o que ela não é." (Carl Gustav Jung).

Repito: creio que esta é a melhor e provavelmente a última homenagem que no momento posso prestar a uma acrisolada amiga.