ANA MARIA

A tristeza é profunda e irremediável para o resto de nossas vidas quando ainda muito jovens e inexperientes nos apaixonamos perdidamente e a pessoa amada vem a falecer no momento maior da sua juventude.

Para quem fica a morte de forma estúpida interrompe todos os sonhos de uma vida que imaginávamos pela frente com a pessoa querida.

Os anos passam, o amadurecimento chega, seguimos nossas vidas, mas em momento algum esquecemos e abandonamos a ideia de como teria sido a caminhada ao lado do ser que se foi.

Ana Maria foi a paixão da minha juventude, no momento em que acreditava como todo jovem que tudo seria possível, alcançaria tudo na vida e nada me impediria de ser feliz em todos os sentidos, a morte chega de forma inesperada e termina com todos os sonhos.

Nascida em Portugal na cidade do Porto, chegou ao Brasil com sua família ainda criança.

A conheci no meu primeiro dia de trabalho em uma empresa onde ela já trabalhava na Avenida Angélica na cidade de São Paulo localizada em Higienópolis, bairro da classe média alta paulistana.

Foi amor à primeira vista.

No ápice da nossa juventude eu com dezenove anos e ela com vinte e dois.

Ana era uma jovem bonita, alegre, doce, e o que mais chamava a atenção eram sua delicadeza e meiguice, e um jeito único de falar que não esquecerei jamais.

Foram dois anos de convivência intensa e de amor profundo.

Em função de ser mais jovem e estar iniciando uma carreira profissional, os pais foram contra logo no principio do nosso relacionamento, pois achavam que ela estava passando da idade de se casar e eu era apenas um jovem iniciando a vida.

Desejavam mais para a filha do que aquele rapaz, por quem ela se apaixonará poderia oferecer naquele momento.

Foi uma campanha terrível da família no período que estivemos juntos, éramos obrigados a nos encontrar escondidos, em longas caminhadas pelo bairro, principalmente sob os flamboaiãs da Praça Buenos Aires.

Em nossos encontros fazíamos planos e sonhávamos o que realizaríamos na nossa vida em comum.

O comportamento social daquela época, onde os filhos obedeciam cegamente os pais, a pressão familiar foi mais forte do que a nossa juventude e inexperiência pudesse resistir e acabamos sucumbindo a separação.

Algum tempo depois conforme a vontade dos pais, Ana se casou com um membro da chancelaria portuguesa que prestava serviços em Lourenço Marques na África, na época ainda colônia de Portugal, para onde se mudou.

Eu sonhava em me estabilizar na vida e um dia voltar a encontrá-la.

Foi quando aconteceu sua fatal doença, grávida de 8 meses veio a falecer, conseguindo os médicos salvar sua filha, de nome Alessandra, o mesmo nome que havíamos escolhido para nossa filha em devaneios caso a tivéssemos.

Durante toda a minha vida de certa forma eu não consegui superar a perda, na minha mente antes da sua morte eu tinha certeza que voltaríamos um dia a viver juntos novamente.

Durante esses 40 anos que se passaram, foram infinitas as vezes que voltei a Praça Buenos Aires, e sob ainda os mesmos flamboaiãs, recordo daqueles momentos maravilhosos, inesquecíveis que um dia vivenciei ao seu lado.

Sentado no mesmo banco, a sinto ao meu lado, ouço sua voz, seu sorriso delicado, sinto o seu perfume e o frescor da nossa juventude.

O seu corpo foi translado para São Paulo e hoje descansa no cemitério do Morumbi, onde por muitas vezes rezei e depositei flores.

Nunca mais soube da sua família.

Hoje no entardecer da vida seria uma alegria imensa encontrar sua única filha, deve ser uma mulher maravilhosa como a mãe.

Um amor da juventude que sentirei até os últimos dias da minha vida.

E se espírita fosse, seria uma felicidade imensa ser ela a primeira luz a encontrar após minha passagem.

Ana adorava a música composta por Juca Chaves “ Por quem sonha Ana Maria” se me permitam reproduzo abaixo essa linda poesia em sua homenagem.

Na alameda da poesia

Chora rimas, o luar

Madrugada e Ana Maria

Sonha sonhos

Cor do mar.

Por quem sonha Ana Maria?

Nesta noite de luar

Já se escuta nostalgia

De uma lira a soluçar

Dorme, sonha Ana Maria,

No seu leito de luar.

Por quem sonha Ana Maria?

Quem lhe está triste a cantar.

No salão da noite fria,

Vêem-se estrelas a dançar

Madrugada e Ana Maria

Sonha sonhos,

Cor do mar

Por quem sonha Ana Maria?

Quem lhe fez assim sonhar

Raia o sol e rompe o dia

Desmaia ao longe o luar

Não abriu de Ana Maria

Linda flor de seu olhar

Por quem sonha Ana Maria?

Eu não sei

Nem o luar.

Duda Menfer
Enviado por Duda Menfer em 11/03/2009
Reeditado em 11/07/2017
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