EPICURISTA

EPICURISTA

Vem mulatinha

Minha torre minarete

Minha palmeira macaíba

Meu beija-flor de brejeira

Corte fundo minha sola

Com seu olhar de faísca

Traga contigo molhado

O beijo que tu me guardas

Fumegue no meu braseiro

Me amarre no cardeiro

Me arranque do peito inteiro

Meu coração de espingarda

Vem maluquinha

Vem brincar de mata-mata

Entorte minha espinha

Alegre minha vida chata

Me leve de mar adentro

Me solte nalgum parracho

Me faça um arroz com coentro

Me balance numa rede

Traga guardada na boca

Uma cachoeira inteira

Me inunde de tal maneira

Que eu nunca mais sinta sede

Vem mulequinha

De olho d´água cristalino

Deixe eu nadar no teu rio

Piaba feito menino

Me arraste na correnteza

Me sapeque numa pedra

Mostre toda fortaleza

Dessa tua carne dura

Encha minha roladeira

Me pegue numa ratoeitra

Me arranhe, me azunhe, me bata

E coma minha rapadura.

Vem bonequinha

Eu não suporto saudade

Inda mais na minha idade

Ficar esperando é chato

Me leve pra passear

Nas dunas, nos manguezais

Numa noite de lua cheia

Deitado na tua areia

Alinhando o meu planeta

No rumo dos teus corais

Gritando de boca cheia:

Da vida eu não quero mais!

Natal, 14 /02/ 2007

Dedalus
Enviado por Dedalus em 10/03/2009
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