CEM ANOS DE PATATIVA DO ASSARÉ
Patativa do Assaré*
um século, se ainda vivo
Camões cordelista na Sorbonne
Fort., 02/03/2009.
Patativa do Assaré
sertão, poesia, nordestinidade,
um grito social pelos pobres
Fort., 03/03/2009.
* * *
*) Antônio Gonçalves da Silva,
apelidado "Patativa do Assaré,
tido como "o maior poeta oral
do mundo". Nasceu na Serra
de Santana, Assaré, Ceará,
em 5 de março de 1909. Vivo,
no próximo dia 5, completaria
cem anos. Poeta popular, cor-
delista, cantador de viola,
compositor de músicas
e exímio improvisador. Deixou
diversos cordéis e vários livros,
entre os quais INSPIRAÇÃO
NORDESTINA, CANTE LÁ QUE EU
CANTO CÁ (livro-tema da SBPC,
em 1979, em Fortaleza) e ISPINHO
E FULÔ. Sua lira cantou o homem
simples do sertão, suas agruras e
paixões. Foi um constante defensor
da justiça social, da liberdade e dos
direitos humanos. Sequer concluiu
o Primário e, mesmo assim, foi ser
estudado na cadeira de língua
portuguesa, na universidade de
Sorbonne, na França. O cantor
Luiz Gonzaga, o "Gonzação", gra-
vou-lhe o poema "Triste partida",
um pungente canto de sofrimento
do homem nordestino nas terras
do Sudeste brasileiro. O cantor
Fagner também o gravou. Faleceu
a 8 de julho de 2002. Viva o (como
ele mesmo se auto-proclamava)
"poeta rocêro", que morreu pobre e
sempre a lavrar a terra, como mo-
desto agricultor!
AMOSTRAGEM DE SEUS VERSOS:
"Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabalho na roça, de inverno e de estio.
A minha choupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mio.
[Filosofia de um trovador
sertanejo, em "Inspiração
nordestina", 1956]
***
Seu dotô pede que eu cante
Coisa de filosofia
Escute que eu vou agora
Cantá tudo em carretia
O senhô pode escutá,
Que se as corda não quebrá
Nem fartá minha cachola,
Eu lhe atendo num instante;
Nada existe que eu não cante
Nas cordas deste viola.
[Filosofia de um trovador
sertanejo, em "Inspiração
nordestina", 1956]
***
Sou matuto sertajeno
Daquele matuto pobre
De não ter gado, nem quêjo,
Nem ôro, prata nem cobre,
Sou sertanejo rocêro,
Eu trabaio o dia intêro,
Que seja inverno ou verão.
[Vida sertaneja, em "Cante lá
que eu canto cá", 1978]
***
Poetas niversitáro
Poetas de Cademia
De rico vocabularo
Cheio de mitologia:
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.
[Aos poetas clássicos, em
"Cante lá que eu canto cá",
1978]
***
Eu sou o poeta selvagem,
Nem recebi instruções,
É rude a minha linguagem
E fraca as expressões
Para render homenagem
Ao grande poeta Camões
Que com seu pensamento
Deu à Pátria um monumento.
[Luís de Camões, em Cante lá
que eu canto cá", 1978]