Jarro com flores como brinquedo

Prólogo:

Com este texto Homenageio minha acrisolada filha Fabianne que, ao sorrir, resplandece não apenas o brilho das estrelas, mas faz refulgir, sobremaneira, meu universo de ideais reunindo todas as perfeições e beatitudes concebíveis no cadinho da esperança e independentes da realidade.

Local do Nascimento: Hospital Pedro I - Nesta cidade de Campina Grande - PB - Data: 18 de outubro de 1981 - Horário: 18 horas.

Assemelhando-se a um dourado estio, após dia tempestuoso, com céu pardacento, carregado de nuvens plúmbeas, sob a excelsa proteção do início da noite, tal qual presságio benfazejo, nasceu o anjo Fabianne no dia consagrado à criança (12/Out). Minha filha amada é o meu porvir e representa a candura de minha paz que, mesmo a distância, em sublime devaneio, me transmite paz, força e progresso. 

O que devo fazer com o brinquedo ora presente, outrora ausente em meu nigérrimo passado, em minha resignação de adolescente, em pretérito sofrido e distante? Preparei-o para ser entregue aos primeiros segundos do dia 12 de outubro! Embalei-o com esmero, excelso cuidado, acriançando o espírito na contemplação de teu rosto, quando em tuas mãos delicadas pudesse entregá-lo.

Deixei-o em cima da mesa, onde está até hoje, como testemunha surda-muda de meu saudosismo insano, inocente, sem pecado. Trata-se de um jarro com flores, lírios e jasmins, na melhor exteriorização do sublime amor por ti não demasiado cultuado.

Esperei-te debalde, certamente não mereço mesmo tua valorosa e excelsa atenção. Ao fim das contas eu deveria ter percebido que já não és uma criança traquina e chorona, tampouco uma moçoila irreverente.

Sendo eu um homem precocemente decrépito, às vezes irascível, por índole ou malíssimo viver, fui incapaz de perceber que já és uma linda e virtuosa mulher, capaz de provocar suspiros nos homens que te enxergam no esplendor de teu viço feminil.

O presente brinquedo é algo impróprio para criança e mesmo havendo a possibilidade, creio, de não mais poder ser usado, quero deixá-lo quieto, silencioso, contemplativo; imaginando-o em riso zombeteiro, sardônico, como se estivesse galhofando de meu gesto bobo, palerma. 

Entusiasta, igual a todo pai, é fato que fiz fantasias e dormi a sono solto, satisfeito, imaginando teu lindo e infantil sorriso ao recebê-lo das mãos ansiosas e trêmulas de um pai zeloso.

Oh! Doce morena e menina-moça, que faço agora com esse que era teu, agora meu, sofrido estorvo e malfadado jarro com flores como brinquedo?

Ouço uma voz musicada respondendo em sussurro sibilante: "Deixe-o onde está, silente. Considere-o não como um brinquedo, mas como uma representação excelsa de meu agradecimento e reconhecimento de sua competência paterna. Sou o que sou graças aos seus primorosos cuidados".