Um Homem Difícil.......Mas não Muito

Aconteceu quando eu trabalhava na Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, nessa época eu era maquinista nos trens de carga que iam de Campinas a Ribeirão Preto ou Casa Branca e Guaxupé.

Como o movimento de trens era intenso, trabalhava-se 18 ou mais horas numa viagem, e no fim do mês as horas extras eram muitas, e estas horas eram anotadas nos nossos talões de ponto. Como era feita uma cópia sabíamos quantas horas teríamos de receber.

Em um determinado mês não me foram apontadas 35 horas extras. Para recebê-las era preciso ir ao escritório central e comprovar a falta das mesmas.

Entretanto, no escritório central, tínhamos de conversar com o Senhor Pereira, chefe do escritório, que diziam tinha verdadeira alergia de atender o pessoal de locomotivas que ele considerava, segundo diziam, que todos os maquinistas e foguistas eram arruaceiros e aos quais não se devia dar muita atenção.

Mais de um colega de trabalho chegou a discutir com o Sr. Pereira. E o problema era sempre o mesmo: falta de horas extras. Se quisessem estragar o dia dele era ter de atender o pessoal de locomotivas.

Eu então me preparei e fui ter com o temido chefe. Disse ao seu secretário o motivo da minha presença ali. Pouco depois o Sr. Pereira mandou que eu entrasse. Depois de cumprimentá-lo eu me identifiquei: “Sou maquinista e venho aqui tomar o precioso tempo de V.Sa., e sei que eu também posso estar errado nas minhas contas, e não acredito que os escriturários do ponto erram de propósito contra nós, pois sei que o sr. nunca aceitaria uma coisa dessas”.

Então ele me olhou muito sério e disse: “Sr. Laércio, você é o primeiro que chegou aqui sem estar revoltado conosco, do escritório central. Já fui xingado, insultado, sem antes ter falado qualquer coisa. Todos já chegam com o espírito preparado para me julgar com os piores argumentos. Eu não sou contra o pessoal de máquinas. Nunca disse que vocês são bêbados ou arruaceiros. Criaram uma imagem minha que não é real”.

E mandou buscar o meu ponto. E comprovando que realmente eu tinha razão, me convidou para tomar um café, ali junto com ele e me disse: “Diga aos seus colegas de trabalho que todas as vezes que vierem aqui com respeito e educação, como o Sr. fez, todos serão tratados como gente civilizada”.

Ele me abraçou comovido e disse: “Obrigado pelo seu respeito à minha pessoa, sem preconceitos”.

Laércio
Enviado por Laércio em 23/12/2008
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