Singelos Propósitos Natalinos
Quero neste Natal enterrar de vez a inveja, o ciúme, a sede de vingança, enfim tudo aquilo que machuca a minha alma e me transforma no animal que não sou.
Quero me esvaziar de intenções escusas, ilusões tolas, cegas ambições, loucuras desvairadas que não têm a poesia como cerne e a beleza da arte como intérprete.
Quero ser mais solidário que solitário. Andar com os pés descalços na relva e chorar junto aos esquecidos nos dando mutuamente os ombros e os braços em abraços.
Quero desfrutar da tua amizade sincera e desinteressada. Passear de mãos dadas contigo na praia e respirar o ar puro que vem da brisa do mar.
Quero trabalhar no tear dos meus sonhos e colocar sempre nele a presença divina a fazer história comigo, me induzindo e inspirando nos seus misteriosos desígnios, refreando a minha língua em não maldizer os semelhantes aos quais buscarei tratar com mais amor e compaixão.
Quero fazer no meu quintal um misto de jardim com horta, onde as flores e as verduras coabitem os mesmos canteiros e eu possa todo dia receber a visita do beija flor e da cotovia, vendo-os bailar seus cantos e danças encantando os meus olhos.
Quero esquecer as dores do passado e das agruras de cansadas caminhadas, ao mesmo tempo em que irei recomeçar outras transcendentes experiências amorosas, mesmo que imaginárias com a musa parceira de versos e de utopias poéticas.
Quero que a reflexão esteja presente em conspiração com a sadia meditação de quem sabe apreciar o silêncio que sussurra palavras bonitas aos ouvidos e grita suas carícias arrepiantes, sabendo calar-me para respeitar a melodia das pessoas ao meu lado e da própria existência.
Quero no canto de minha alcova deixar as inquietudes e postar a Declaração dos Direitos Humanos onde todos são de fato irmãos, quaisquer que sejam as suas línguas, cores e nações.
Quero ver no bico da pombinha branca o ramo de oliveira anunciando o fim dos dilúvios e das enchentes que tanto devastou meu Estado natal, agora revisitado e habitado numa nova e definitiva jornada.
Não quero participar de suntuosas liturgias caquéticas e distantes da presença do Espírito Santo, onde estão sempre embalados um Menino Jesus rico, cocho e dissonante do pobre, milagroso e verdadeiro Deus que habita nos corações simples, puros e imaculados.
Quero olhar mais para as famílias dos sem teto, sem terra, sem doçura, sem quem os protejam. Desejo a justiça e a bondade humana que os amparem.
Quero me despir neste Natal de tudo que é ruim e abraçar com ternura aos que vieram dividir comigo a ceia da minha amizade, do meu carinho e do farto e lauto amor poético, embora à mesa possa estar tão pobre quanto eu mesmo o sou.
Hildebrando Menezes
Nota: Homenagem aos hóspedes da Rua... 111 – Edf. Mar de Angra –Kassandra Marr, John Acosta, Kívia, Angel e Lily. Reflexão inspirada em Frei Betto e na chegada dessas celebridades ao meu novo endereço residencial.
Balneário de Camboriú, 23 de dezembro de 2008.