Homenagem a “lady SOPHIE” – Parte II
Homenagem a “lady SOPHIE” – Parte II
Acordando de um sonho
Ternura com Sophie
Desvio dos teus ombros o lençol
Que é feito de ternura amarrotada,
Da frescura que vem depois do Sol,
Quando depois do Sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
Como vultos perdidos na cidade
Em que uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
E é ternura também que vou vestindo,
Para enfrentar lá fora aquela gente
Que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
A despimos assim que estamos sós!
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Tempo de Poesia em nome de Sophie
Todo o tempo é de poesia.
Desde a névoa da manhã
À névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
À frigidez da agonia.
Todo o tempo é de poesia.
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.
Sob a cúpula sombria
Das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
Da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação do caos
À confusão da harmonia.
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Nas mãos de Sophie
Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
Destes olhos, e dos choupos,
Carregados de sombra e rasos de água.
Só elas são
Estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
Flores abertas aos meus segredos.
Cantas. E fica a vida suspensa.
É como se um rio cantasse:
Em redor é tudo teu;
Mas quando cessa o teu canto
O silêncio é todo meu.
Quando em silêncio passas entre as folhas,
Uma ave renasce da sua morte
E agita as asas derrepente;
Tremem maduras todas as espigas
Como se o próprio dia as inclinasse,
E gravemente, comedidas,
Param as fontes a beber-te a face.
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Como esquecer Sophie...
Então é isto, a morte, ir esquecendo as palavras uma a uma.
Ao princípio julguei ter acedido ao paraíso,
Visto que as primeiras palavras que perdi eram difíceis e inúteis,
Gostava de viver assim abandonado às que restavam.
Mas depois fui esquecendo palavras que me faziam falta
e comecei a entristecer.
Peguei numa folha de papel para escrever uma carta
E não consegui lembrar-me da palavra própria para dizer
A vontade de te encontrar de novo.
Folheei vários livros para a encontrar
E não consegui reconhecê-la.
Já esqueci como se chama o sítio onde as coisas sucedem,
Também esqueci como se diz aquilo que brilha e se divide em sete cores,
sei que brevemente esquecerei o nome de cada uma delas.
É ainda mais penoso do que tinha imaginado,
Saber que para sempre existirei
Sem te poder dizer,
Sem te poder pensar.
A morte é isto, então,
Não reconhecer a palavra própria
Para chamar aquela ue se ama... Sophie..
( Jose Meireles do Nascimento )