Dislexia Necessária

Por que não podemos mudar de vez em quando?

Onde está a regra, a lei, a voz?

Tem gente que prende as palavras na garganta, tem medo ou vergonha de mandar alguém pro inferno quando tem vontade ou de dizer que algum trabalho está ridículo. Tem gente que para, senta e espera, assiste a vida passar, assiste o outro ser engolido e não faz nada, ou melhor, se defende com o direito de não fazê-lo. Mas tem gente com sangue vermelho, e não me refiro às hemácias ou ao ferro das hemoglobinas. O sangue é vermelho de raiva, de justiça, de luta. A cor não é acaso. São marcas de uma indignação evidente e, muitas vezes, bombardeada de emoção. Estou manchada (sovi) eticamente.

Somos sócios do indiscreto clube chamado sociedade. Hoje somos convidados VIPs, amanhã seremos coadjuvantes ou escreveremos a resenha que criticará o novo ato da peça de teatro chamada vida.

Todos sentimos, o tempo todo, a falta de alguma coisa. O corpo pede outro corpo. A alma espera outra alma. Onde estará o príncipe? ‘’Que droga, ele ainda não me ligou!’’; será de carne e osso? Será mesmo perfeito? Será que ele é corintiano? Será ele o encantado ou serei eu, tão determinada a lutar pelos outros que, encantada, esqueci de brigar por mim mesma? Quantas dúvidas... e olha que eu frequentei o plantão, fiz até aula particular de matemática... que pena! ‘’Nossa, é ele de novo!’’.

O coração se encarrega de traduzir as mensagens que ciência alguma consegue equacionar.

Seus motivos podem ser enganos. Seus amigos podem ser alegorias, ciganos dissimulados, pseudo-heróis desmascarados, afinal, usar uma máscara vai muito além dos buraquinhos para os olhos no velho lençol de seda.

Valores... o mundo os quer. Provavelmente em cifrões ou demagogias. Alguns poucos ainda resistem, bravos, com a gentileza esguia e o ‘’bom dia’’ por obrigação. Malditos políticos sem partido, maldita ‘’falsidadiária’’.

Não há comunicação, apenas papéis mal escritos e editados para o consumo e para os interesses individuais.

A escravidão acabou, mas ainda conserva reflexos. Não é vingança, é justiça, é igualdade, ‘’eu só tô tentando fazer a coisa certa’’.

Por que tanta agressividade? Por que tanto ‘’mau-humor’’?(ou seria o seu modo de dizer ‘’meu-humor?’’) Onde está a liberdade de expressão? Será que terei, novamente, que afogá-la e mantê-la em cárcere por agrado aos olhos alheios? Será que preciso brigar com todo mundo pra tentar me fazer entender? Será que eles não enxergam que estão todos errados?! (ou o errado seria querer que todos concordassem comigo?).

Às vezes não gosto dos olhos. Não gosto de ser julgada, gosto que falem na cara. Preciso tomar cuidado com meus passos... já não sei em que passado estão minhas lembranças, minhas culpas, meus traumas. Sinto falta daqueles olhos. Os mesmos olhos que deleitam na iniquidade e puxam-me para o abismo... mas eram os Meus olhos... tão somente Meus... olhos...

Quero ser Única e não vou medir esforços para conseguir.

Já fui criança e sinto saudades, ‘’já não aguento mais esse lugar’’. Preparo-me para ser mulher, mas não sei se quero um pai, um padrasto, um irmão ou um amante. Acho que quero todos ao mesmo tempo no mesmo homem. Vou chamá-lo Namorado, e será só meu. Só eu terei um Namorado, por que eu (o quis e) quero assim. Porque eu (o) imagino assim. ‘’Porque eu acho que é melhor pra mim e pronto, porra!’’.

Estou cansada de esperar. Bebi um pouco pra suportar, mas piorei. Tenho balançado entre os braços do Destino e da Amizade... caí nos da Dor.

Futuro? Papo furado. Não me pertence. É um foguete em contagem regressiva para a surpresa. É a chance de não ser mais uma vez lembrada por meus erros. Minha viagem começa agora e não tem data pra acabar. Quero um passaporte para liberdade (se não existe, criarei um). Vou para onde eu possa gritar sem ser ouvida. ‘’É isso o que eu quero pra mim’’.

Eu sou Fi(d)el, não tenho que provar nada pra ninguém. ‘’Não preciso de ninguém pra viver, me contento com os poucos amigos que tenho’’.

Acho que já Chê-ga de eufemismos, de suavizar a realidade. A vida é dura e ponto final. ‘’Quero calar a boca daquela maldita mídia sensacionalista’’. Fazê-los me engolir cada vez Marx.

Vou viver no meu mundo, sem esquecer que o tal Globo sempre tentará me derrubar. Não quero tantos gritos, vamos coletivizar alguns sorrisos? (ou será que o capitalista prefere que eu os venda?). ‘’Vou ficar na minha, se quiser falar comigo que me procure, tô de boa’’.

Não existe um padrão de beleza, existem diferenças e belezas.

Essa ideia de beleza interior já não (Coca) Cola.

Estou farta de ser olhada como um pedaço de carne, um fragmento de gente, um par de peitos estridente. Por que não me olham sem julgar? ‘’Cansei de tentar ser política’’.

Sou diferente, mas não sou melhor por isso. Sou forte, sensível e sensata. Uso minha emoção para equilibrar a seriedade dos meus sofrimentos. Sinto sede, mas não é de água. Derrubem os prédios, construam pessoas, por favor! Eu tenho sede de justiça. Sinto-me sufocada, pensei em desistir. Pensamentos vão(s) e vêm não necessariamente se realizam. Por sorte.

Minha sede é logo ali, na rua De-baixo da escola: ‘’Quartel general da Liga da Justiça’’. Procure por Sargenta ou Carcereira, mas é provável que me encontre como Batman. Eles propõem. Eu prefiro.

Preciso respirar um pouco, é melhor eu enxugar minhas lágrimas senão minha asma vai atacar de novo; ‘’Mãe, cadê a minha bombinha?’’.

Preciso de um doce, alguém tem uma bala? Alguém aceita um sorvete? Alguém tem um tempo pra mim?

‘’Alguém precisa fazer alguma coisa!’’. Ainda dá tempo? Acho que não, tem que estudar muito. Prefiro o mais fácil, nem sei se vão me ouvir...

Acabo de olhar o relógio.

Perdi hora. Fui dormir tarde.

Tenho 10 recados. Apaguei todos da minha vida.

Finalmente um 9. Não existem mais evidências ou provas importantes.

São 8 horas. Não sei se foi a vida que adiantou o relógio ou se fui eu que atrasei meus planos.

Ainda tenho 7 vidas, não quero repetir mais 6 erros.

Tenho 5 segundos para decidir. Não tenho escolha, acho que vou chutar ‘’C’’. Camelo. Cavalo. Cavalga-dor. Chupa-cabras. Cuba. Che Guevara. Campeão. Caricatura. Charles. Chiclete.

Longos e distantes 4 meses de descanso serão suficientes para esfriar o mercado e a minha crise?

Tenho direito a 3 desejos, mas já não sei pedir.

Seremos 2 abandonados dividindo a mesma febre, a mesma insônia, os mesmos medos de crescer.

Eu tenho 1 inferno na cabeça. Lateja, borbulha, queima por dentro e por fora. ‘’Os foguetes partem depois do zero?’’. Alguém me segure, vou decolar!! Meu limite é o infinito.

Às vezes parece que tudo vai desmoronar na minha cabeça. Não sei lidar muito bem com tudo isso, mas estou me virando, do jeito que dá... cicatrizar é ter novas feridas para cobrir as velhas, então escancaradas.

A vida não é fácil, mas é uma só! O que posso fazer é pisar no acelerador e correr sem rumo. Vou viver um dia de cada vez, sem passado e sem memória. Não vou pedir tantas desculpas, EU preciso me perdoar um pouco também. Eu preciso me permitir.

Meu Capcioso destino não quer saber de ciências ou pontes de hidrogênio (nem de macarrão). Quero ser amiga dos meus amigos, quero me sentir viva de novo, sem precisar comer feijão ou voltar a jogar no gol.

Eu serei titular na vida de quem quiser. Vou ‘’reservar’’ tristezas e dar um bico na má sorte com garotos (‘’xô, zica!!’’).

Social eu já sou (cientista... quem sabe...).

O meu jornal não fala de guerras. Minha TV não mostra os crimes nem invade a privacidade da população. Meu partido está rachado. Meu orgulho é um mapa sem X. Meu coração é um oceano flamejante, quente, seco.

Já não importa o que passou, afinal: ‘’quem é mais importante pra mim do que eu mesma?'' Nunca mais aposto nada. Meus olhos me traíram. Nunca mais aposto nada! (nem nunca vou conseguir cumprir minhas promessas).

Estamos de recessão: o mundo e eu. O dólar cai, minha febre sobe. As bolsas quebram e o meu nariz escorre. Diagnóstico: sinusite.

Não me (im)peça! Não tenho dono! Eu sou real e estou no meu lugar, onde quero estar. Não vou abrir a boca. Vou pensar (em) cantar. ‘’Não me provoque, eu posso não resistir’’. Converse comigo. Dê-me seu endereço. Um retrato. Uma chance. Uma noite. E me diga pelo menos bom dia quando acordar. Ao sair, deixe a porta do quarto entreaberta. Outros querem entrar. Eu só recebo quem eu quero...

Hoje à noite, fica comigo. Seja o meu cruzeiro. Quero ser uma ilha no meio da sua imensidão. Faça-me perder os sentidos. Faça-me esquecer quem sou, as vergonhas que fui.

Vem, consciência... Pesada, tardia... muito prazer!

O diálogo de quem aluga a vida alheia não vai além do dia. Não há noite que possa impedir o nascer do Sol e a esperança. Acredite e não fuja. Dê-me as mãos. Não corra tão depressa. Queira mudar. Queira esquecer. Queira libertar-se!

Já passou da hora de tomar uma decisão. Quero um pouco de água pra ajudar a descer. Vou tentar não me afogar com escolhas, mas sempre sobra um pouquinho daquele maldito pó do sache, que só serve pra engasgar a gente. Não mais que uma vida será salva.

‘’Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes cair das nuvens que de um terceiro andar’’ (grande Machado, gosto desse meu xará). ‘’Quero o monopólio das penas que sinto por mim mesma’’. E o terei. Encerro-me em paz com minhas frustrações (‘’Bossa(?)... não! NOSSA(!), como eu tenho usado essa palavra ultimamente’’).

Não vou NEGAR minha cor, apenas permutar as letras; chega de fingir que não me importo com as (t)raças e com os vira-latas. ‘’Só existe uma raça: a humana’’.

Agora cansei. Estou ofegante, já não sou a mesma de outrora. Tenho medo de chorar e de ficar sozinha no escuro. Não sei onde e por que estou tão perdida nesse latifúndio reprodutivo; nossa, quantos gafanhotos...

Dizem que a justiça é cega...

‘’Deeeeeeeeeixe que digam, que pensem, que falem...’’.

‘’Entre dentes de leão. Em tridentes do diabo. Entre presas de serpente e beijos roubados. Entre a morte e a velhice, entre o medo e a podridão, entre a sorte e o desespero, a preguiça e a razão. Sinto-me presa, atada às correntes do desengano e da dor. Sinto-me fraca, pobre, irresponsavelmente vil, irremediavelmente doente do espírito. Sou apenas sombra do que já fui. Restos mal decompostos de um ser atrevido e definitivamente destinado ao erro. Meu pecado é ser assim: mal com os outros, um pouco mais comigo. Sou dependente de uma realidade imperfeita, de uma irreal sabedoria vã. Sou ardilosamente inconformada, irritantemente fútil, estupidamente vítima do meu passado. Dói. Vai doer mais, mas há de passar. Serei mais do que a esmola avara ao mendigo. Serei um pouco menos regida de orgulhos. (se) é para o meu bem. Tem que ser assim’’.

Chegou a hora do pote de ouro ter o meu nome. Do prêmio ser o que eu sou, não o que querem ou esperam de mim. ‘’Minha vida é importante demais para ser retratada em uma única página de presente de aniversário’’.

Passou da hora de tomar uma decisão. Não estou sem direção e sentido. Deixo, então, o vetor à incompreensível metafísica e aos desprezíveis coeficientes exatos. Já não posso medir meus sentimentos, não existe fórmula, demonstração ou teorema. Sou o mais imperfeito postulado da vida. A mais inconstante hipérbole do ser. A mais engenhosa e social metáfora do coletivo (cheio ou não).

Já não penso em dotes e recompensas, o que vier é lucro aos que pouco esperam do viver. Terei música nos ouvidos. Desejo sê-la a outros. Perfilo-me neste desfile desleal de mentes e corpos. Sou apenas outra. Sou mais uma. Sinto-me maior, talvez melhor; não, posso dizer, com certeza, apenas maior...

Os ponteiros frequentemente batem ao meu coração; começo a regular o que sinto, já não ME sinto. Não me encontro. Perco a noção de quem sou. Tem alguém querendo me controlar, tentando domar uma fera em fúria, uma dócil e fiel felina absurdamente engaiolada ou menos que isso. Farei um pouco mais por mim, não fazem. Pensarei um pouco mais em mim, não pensam. Rezarei um pouco mais por mim, não rezam. Lutarei um pouco mais por mim, tentarão impedir-me.

Deixo-me só por um instante e já me pego pensando em alguém. ‘’Não gosto de ficar sozinha’’. Por quê? Porque amo, talvez. É o que consigo forjar no momento. Justificativas porcamente conformadas e tristemente incertas. Não sei até onde vai esse sentimento de culpa, de desejo, de afeto-dependência, de ressaca, de euforia, de vergonha, de loucura, de sofrimento, de inconstância, de obsessão, de inquestionável falta de respeito e cordialidade. Estou exausta, inundada de sujeira e ironia. Meus dedos doem. Meu coração está em coma, induzido. Sequestraram-no e o preço do resgate é todo o resto do meu ser. Não há armas na minha cabeça nem revólveres em meu estômago, mas sinto uma ânsia efervescente, uma náusea e um asco que me fazem abominar espelhos. Sinto uma coisa estranha: frio na barriga, escarro na garganta e calor no peito, tudo ao mesmo tempo e isoladamente intenso. Arranho as paredes e abandono meus sentidos. Entrego-me à plenitude extasiante da fadiga e já não me levanto para atender à porta. Quero me esconder do mundo. (Não!) Quero ser sozinha pelos próximos segundos que aguentar. Estou rodeada de anjos, mas sou vazia, aterrorizantemente só.

Fito-me e choro. Fito-te e choro. Hoje sei por que estou assim: tive vergonha de(ser)mais... briguei com todos... não disse tudo o que queria... (me) perdi a todos.

Eu já não digo nada, apenas espreito os olhos da (in)justiça...

Sinto o sereno da manhã, é a aurora do dia chegando. Orvalhos escorrem nas folhas e um pouco mais nos meus olhos. E eu já não me sinto tão só.

Ressuscito de um poente amargurado e renovo o ar que respiro. Renasço todos os dias. Sobrevivo todas as noites. Ergo as mãos para o céu e vejo uma estrela – que sei – também olha por mim. Não sei explicar essa paz, essa leveza repentina, só quero aproveitar o que posso desse marasmo de pensamentos. Hoje serei acéfala, (a)manhã acíclica. Fecho os olhos e já não procuro mais aqueles olhos. Os meus medos foram embora e meu coração retoma as próprias rédeas. O teatro recomeça, mas a peça é outra. O circo foi pra longe. Desmontado, o picadeiro não me aterroriza mais. O palhaço, sem graça, sem sapatos, voltará em meus sonhos lembrando sorrisos e gargalhadas factuais. Eu irei rir de tudo, a começar por ele. Já não me pesam tanto as costas e já não penso mais em morcegos justiceiros com tanta repulsa. Hoje até me parece engraçado.

O cartaz tem novo título e novas são as personagens. O filme roda e a luz no fim do túnel se apaga. Estou em outro túnel, outro nível. Dessa vez desperta, seguramente acordada e pronta para mim, para a vida, para Outro.

Papo bom, madrugada longa, cappuccino sem açúcar...

Somos atores, astros, autores, artistas, ‘’Arianemente’’ efusivos.

XX / X / MMVIII